O Vampiro no cinema

         A primeira obra cinematográfica sobre vampiros foi uma produção de 1896. Durava apenas cerca de dois minutos e segundo MacNally e Florescu: “em uma cena um gigantesco morcego voando perto de um castelo medieval de repente se transforma em Mefistóles [...] um cavaleiro medieval chega com um crucifixo e em confronto com ele o diabo desaparece numa nuvem de fumaça”. Ainda segundos os referidos autores, “a maior parte dos primeiros filmes mudos sobre vampiros era sobre ‘vamps’ – mulheres sedutoras que encantavam ou cativavam homens” (1995, p.263). Mas será no Expressionismo alemão que a obra vampiresca tomará contornos importantes para este panorama. Portanto, partir de seu contexto histórico torna-se necessário para o entendimento da relevância de seu papel.  
         No início do século XX, os avanços tecnológicos possibilitaram o aumento das produções cinematográficas, ajudando a popularizar o cinema em vários países, incluindo a Alemanha. A produção cinematográfica alemã obteve um grande crescimento, abrindo as portas do país para a entrada de roteiristas, atores e demais profissionais de outras nacionalidades. A eclosão da 1ª Guerra Mundial interferiu na tendência expansiva da indústria cinematográfica alemã, trazendo uma nova realidade à época. “A indústria beneficiou-se ainda mais com a guerra pela interrupção da importação do filme estrangeiro, que permitiu uma ascensão sem concorrência dos produtores, embora não da qualidade dos filmes.”(NAZÁRIO, 1999, p. 139).
         A indústria nacional, sob o risco de perder seu público, viu-se obrigada a aumentar sua produção para suprir a demanda que, até então, era em parte atendida por filmes estrangeiros. Aliado ao estímulo na produção alemã, no contexto do pós-guerra, surgiu um estilo artístico bem distinto dos demais já existentes, o Expressionismo. Aparecendo inicialmente na pintura, estendeu-se a várias outras formas artísticas, entre elas a fotografia e o teatro, até chegar ao cinema.  
         A atmosfera na qual o Expressionismo nasceu estava fortemente marcada pelo clima de depressão e desilusão quanto ao futuro da sociedade. “Os alemães haviam desistido de poupar seu dinheiro corroído pela inflação, preferindo gastá-lo em prazeres e diversão, sua indústria cinematográfica conheceu enorme criatividade” (NAZÁRIO, 1999, p. 148).  Os artistas acreditavam que se não houvesse uma mudança brusca de postura em relação ao caminho que a humanidade estava trilhando, não haveria forma plausível de viver em coletividade, culminando na sua destruição. O expressionismo atribuiu grande importância à subjetividade do artista. Segundo Nazário (1999), o expressionismo é a arte na qual a forma não nasce diretamente da realidade observada, mas de reações subjetivas à realidade, ou seja, sem se comprometer a exibir e retratar a realidade tal como é, e sim dar visibilidade a um mundo ligado ao sentimento, à alma do autor. 
         O movimento apresentava sempre em sua configuração a presença do mal, com seus diferentes tipos de personagens, tais como criminosos, pessoas monstruosas, perversas, sobrenaturais e demoníacas.   As narrativas eram bastante fantasmagóricas e somente o verdadeiro amor poderia trazer a salvação e a proximidade de um fim menos trágico. “A procura do imaterial, do outro mundo que se escondia por trás das aparências, era sustentada por um sentimento religioso levado às raias do misticismo.” (NAZÁRIO, 1999, p. 150).
       Ainda segundo Nazário, “No cinema, o expressionismo encontrou um terreno fértil, ainda aberto a todo o tipo de experimentação.” (1999, p. 158).  A agonia em que viviam os artistas alemães utilizou a arte para extravasar. Assim, usaram a
                             [...] temática do horror regada a preto e branco e muitas viragens (Procedimento químico comum no cinema mudo e preto e branco, que tingia as películas de uma cor) como alicerce para a manifestação da idéia expressionista, escancarando ao mundo os fantasmas inconscientes que agitavam o “eu” alemão. (SIMÕES, 2009, p.12)  
         A intenção de converter o sentimento “[...] de inutilidade, de destruição de valores, marca a diversidade de temas e técnicas na cinematografia do começo da década de 20.” (LAWSON, 1967, p. 67). Fazendo com que a maioria dos filmes tenham uma intensidade negativa. Influenciado pelo gótico medieval, o movimento veio para contrapor a poética do Impressionismo, explorando aspectos sombrios, presentes na mente alemã do pós-guerra. 
         A característica mais marcante é a cenografia exacerbada, importada de sua forma teatral. Havia uma grande estilização do mobiliário. Os figurinos e a maquiagem eram muito extravagantes, incluindo olheiras marcadas, traduzindo os questionamentos e as inquietações existenciais, e a interpretação bastante pitoresca, contando com o envolvimento de todo o corpo, de forma expressiva e inconstante. Neste estilo, havia forte presença de simbolismos nas cenas. Por exemplo, as ruas vazias e escuras caracterizam a vida depressiva urbana do pós-guerra; os espelhos, uma porta para o além; as escadas, uma metáfora para os altos e baixos da vida dos personagens, que oscilavam de humor com freqüência; além dos livros, representantes de fontes de sabedoria para abater o mal.
         Os crimes cometidos involuntariamente por heróis neuróticos, juntamente com interferências sobrenaturais, eram constantes nos enredos expressionistas. A animação de objetos, aliada à completa negação da natureza, proporcionavam ainda mais estranheza às cenas.  Para aumentar o desconforto originário da cena e enfatizar o seu usual. O enquadramento clássico e os movimentos de câmera sequenciais do cinema clássico foram substituídos pelos jogos de luz e sombra, pela inexistência de transição de planos e pela interação do personagem com a câmera, representada pelo afastamento e aproximação do ator em relação ao equipamento. Todas essas características eram aliadas do diretor em um processo criativo menos engessado.  
         O primeiro filme expressionista, O Gabinete do Dr. Caligari (Kabinett des Dr. Caligaride, Alemanha, 1919), de Robert Wiene, surgiu dois anos após o fim da primeira guerra mundial, utilizou diversas características desse movimento, marcando o cinema mudo. “O tratamento da iluminação era elaborado, a luz era direcionada para marcar ainda mais as expressões faciais dos atores e contribuir para a implementação do clima sombrio e soturno.” (SIMÕES, 2009, p.19)   
         Lawson (1967) chama essa época do cinema de “fantasia subjetiva, destacando a agressão e a violência”. Estes filmes de terror mostram aquilo que queremos esconder de nós mesmos, sugerindo que todos possuem um lado ruim. Essa nova maneira de pensar a arte rompeu com as tradições e ajudou a elaborar criticas à sociedade alemã, gerando mudanças políticas, sociais e culturais.
         Um clássico do expressionismo alemão, lendário na história do cinema, é Nosferatu, Uma Sinfonia do Horror (Nosferatu - Eine Symphonie des Grauens, Alemanha, 1922). Visto como uma das maiores criações da sétima arte, utilizou vários efeitos e estratégias do expressionismo para gerar terror. É o primeiro filme a obter êxito ao tratar da temática vampiresca como inspiração para o cinema, dirigida por Friederich Wilhelm Murnau. A obra foi inspirada na novela "Drácula" do escritor irlandês Bram Stoker. O livro, lançado em 1897, foi classificado por muitos da época como vulgar e sensacionalista, mas se tornou extremamente popular de modo geral e em especial no cinema. Apesar das transformações que ocorreram com a lenda de Drácula, este livro influenciou significativamente grande parte dos filmes de vampiros. 
         O filme Nosferatu, apesar de adaptado do livro de Stoker, sofreu algumas alterações, como o nome do vampiro e a troca de nomes de outros importantes personagens da história original. Murnau foi obrigado a proceder às alterações devido a disputas judiciais com a família do autor do livro que não autorizou a adaptação. Mesmo assim, o filme é muito próximo da obra literária. Nosferatu se passa em Bremen (Alemanha) em 1838. O caráter terror é transparecido na forma de um pesadelo. O estilo quase mórbido pode ser percebido no filme em que “... desfilam pássaros sinistros, casas sombrias, grandes espaços vazios, atmosfera pesada, árvores fantasmagóricas que formam labirintos macabros.” (CORRÊA, 2001).
         O filme se inicia com um trecho da crônica da grande morte em Wisborg, Domini 1938: 
                            Nosferatu- Esta palavra não parece com o som do canto do pássaro da morte da meia-noite?   Não ouse dizer esta palavra, pois seus pensamentos entrarão na escuridão das sombras. Sonhos fantasmagóricos invadirão o seu coração e beberá seu sangue. (Nosferatu, 1922)
         Thomas Hutter (Gustav von Wangenheim) e a sua jovem esposa Ellen Hutter (Greta Schröder) vivem nesta cidade. Knock, o agente imobiliário oficial, recebe uma carta com códigos e símbolos e o persuadi a encontrar Conde Orlock (Max Schreck). Aproveitando-se da ambição do jovem, Knock o convence que poderá receber muito dinheiro em troca de um pequeno esforço. O objetivo de Thomas é vender-lhe uma casa em frente a sua. Assim, Hutter viaja “para o país dos fantasmas”.  
         Thomas chega a uma estalagem para jantar. Ao contar que pretende ir ao castelo do Conde Orlock, todos se assustam. Apenas um senhor se aproxima e diz que ele não deveria partir por hora, pois era tarde e os lobisomens rondavam a floresta.  Hutter passa a noite na estalagem e descobre o livro: Os Vampiros, Terríveis Fantasmas. Magia e os Sete Sinais da Morte que o ajudará posteriormente.
      Os aldeões temem a noite, pois ela representa o desconhecido, e diante do terror de Orlock, a morte. Ao pedir aos cocheiros que o levem até o Conde Orlock, logo após o pôr do sol, Hutter recebe logo a resposta: “Pode nos pagar qualquer coisa. Não prosseguiremos de jeito nenhum”. (ALVES 2004)
        O corretor não desiste e se aventura a chegar ao castelo. Recebido pelo Conde, Hutter janta e curiosamente à meia noite, se corta acidentalmente com uma faca. A perturbação de Orlock é evidente, “o precioso sangue” o desmascara por instantes e o jovem se assusta com seu estranho anfitrião. Na manhã seguinte, nota marcas em seu pescoço e entende que “os fantasmas da noite parecem reviver das sombras do castelo”
        Ainda na primeira manhã de Hutter na mansão, o conde fecha o dito negócio, mas não antes de se encantar com o retrato de Ellen, elogiando o seu belo pescoço. Thomas se vê prisioneiro do vampiro enquanto no mesmo instante a cobiçada Ellen fica em transe e quase cai da sacada da casa de sua irmã: “desde então, sua alma pressentiu a ameaça do pássaro da morte. Realmente Nosferatu abriu suas asas” (Nosferatu, 1922)
        Orlock segue para a nova morada e Hutter, com o caminho livre, foge para reencontrar Ellen. Enquanto isso, o professor Bulwer explica aos seus estudantes os mistérios da natureza. Ao mesmo tempo, Nosferatu mantém sua influência sobre Knock, fazendo o ser internado como louco, se alimentando de insetos sob o discurso: “sangue é vida”. Hutter consegue retornar para sua amada e por meio do livro Ellen descobre como matar o vampiro. Uma mulher pura deve lhe oferecer de vontade própria seu sangue e mantê-lo ao seu lado até o galo anunciar o amanhecer, sacrificar-se. “Ela desejou e realmente aconteceu. A Grande Mortandade acabou no mesmo momento, em que os raios do sol triunfaram sobre o pássaro da morte, ele deixou de existir.” (Nosferatu, 1922) Nosferatu introduziu simbolismos que posteriormente seriam amplamente usados na caracterização do vampirismo. Como uma carruagem que atravessa a floresta densa em um cenário envolto em névoa, cavalos, lobos e aldeões ansiosos, cenas góticas, interpretação carregada dos atores, intensificadas pela pintura em seus olhos e outras, castelos sombrios, procissões e pessoas enlouquecidas pelo surto de peste. Orlock é um vampiro angustiado com sua existência, para ele a imortalidade é na verdade um enorme fardo. A grande temática do filme é a solidão e tem no lado sombrio da vida sua maldição. A angústia do Conde é explorada como uma redenção. Ele é caracterizado como o mal, a personificação mítica do vampiro. Nosferatu é em si uma figura estranha e aterrorizante.
         No final do filme nota-se que o “tratamento psiquiátrico se impõe ao terror” (LAWSON, 1967, p. 73), quando a heroína supera o seu medo da criatura. E também oferece certa segurança ao espectador com a morte do vampiro. 
                             O caos é o ambiente normal dessas películas. Em algumas delas, indivíduos insanos conquistam a sociedade; em outras, seres brutais impõem uma ordem ditatorial; outras mostram homens e mulheres como vitimas fáceis de forças sobrenaturais; outras, ainda, afirmam o crime e a perversão como inelutáveis atributos da condição humana. (LAWSON, 1967, p. 73)
         Por essas características, o cinema de horror se manteve, e se mantém ainda hoje, como um dos gêneros mais rentáveis. A necessidade humana do contato com o caos manteve a viabilidade deste gênero após o inicio da era sonora.
         No fim da década de 1920, o cinema vinha enfrentando problemas com a falta de lucro dos filmes. “Os homens que controlavam a produção comercial, preocupados com a queda de lucros e exigindo ampla recuperação de seus investimentos, começaram a entrar em conflito com os cineastas interessados exclusivamente pela arte” (LAWSON, 1967, p. 111). Os cineastas não eram a favor do som porque, segundo eles, o dinheiro que seria usado para a tecnologia do som seria tirado da criação. A grande inovação que o cinema apresentou foi a entrada dos filmes sonoros, em 1926. “Os Irmãos Warner, estrangulados por sua exclusão dos meios de exibição, lançaram-se ao filme falado como uma jogada desesperada. No dia 6 de outubro, a Warner lançava The Jazz Singer.” (LAWSON, 1967, p. 121). O filme foi sucesso imediato e com o dinheiro arrecadado a Warner investiu no mercado imobiliário e adquiriu mais de 500 salas de exibição. Com a sonorização, segundo Lawson (1967), os produtores se viram em um dilema. Não era possível ignorar o som, os filmes teriam que usar esse artifício, mas receavam mudar radicalmente a forma narrativa do cinema que já era conhecida e marcada.
         “O emprego do som como meio automático de suplementação da imagem visual, transformando o cinema numa espécie de falso teatro, haveria de marcar todo o seu desenvolvimento futuro.” (LAWSON, 1967, p. 126). Mas para chegar a mudar a história, o cinema falado passou por alguns percalços justamente por se tratar de uma inovação. Alguns atores não haviam passado pelo teatro, outros ainda eram estrangeiros e não sabiam falar inglês. O próprio ator Bella Lugosi para interpretar Drácula tinha que imitar o som das palavras.   Além disso, problemas técnicos também foram enfrentados, como a falta de tecnologia para a captação do som.
         No início da década de 1930, os problemas com o som estavam sendo resolvidos, principalmente em relação aos seus processos técnicos e mecânicos. “Entretanto, a movimentação da câmera e uma interpretação excelente não conseguiram captar o segredo do som como parte da estrutura cinematográfica.” (LAWSON, 1967, p. 136). O som ainda não conseguia se agregar ao desenvolvimento, muitos filmes foram feitos como apresentações teatrais, com a câmera se movendo pouquíssimas vezes. Ainda não era possível mesclar a estrutura cinematográfica com a fala, ela passa a ser usada como um meio de esclarecer certas situações e descrever os personagens. Isso fez com que a imagem não tivesse mais que suportar todo o peso da ação. Como conseqüência, os estúdios passam a contratar pessoas com experiência no teatro. 
         O primeiro filme sonorizado com a temática vampiresca foi Drácula (Dracula, EUA, 1931) dirigido por Tod Browning, interpretado pelo húngaro Bela Lugosi. Esta versão foi baseada principalmente na peça de teatro escrita por Hamilton Deane para a Broadway, em 1927. Apesar de diferenças como inversão de parentesco e exclusão de alguns personagens, a narrativa contém uma fidelidade a obra de Stoker. “O filme mantém uma aura mágica que fascina e mantém seu status de clássico absoluto do cinema de horror.” (KOLLISION, 2004). A presença de bons protagonistas, e “cenários quase oníricos da primeira parte do filme, mantêm o interesse constante ao longo da obra [...].” (KOLLISION, 2004)        
         Bela Lugosi, com sua atuação, estabeleceu um padrão para o personagem lendário: o vampiro só saia à noite, possuía medo de crucifixos, deixava marcas nos pescoços de suas vítimas, estacas de madeira cravada em seu peito poderiam destruí-lo. Além disso, ele transforma-se em morcego, lobo ou em uma espessa névoa, não se reflete no espelho e sente repulsa por alho. Marcou também por caracterizar o vampiro pela elegância e vestimenta formal.
                                   Drácula falava de forma pausada e com um ritmo assustador, lembrando mesmo alguém já meio-morto. [...] A fotografia usa da imagem sinistra de Lugosi. Alguns planos de Drácula só olhando para o público com seu olhar sombrio são comuns, e causaram terror quando exibidos pela primeira vez. (PRADO, 2008).
        O filme se tornou um dos grandes clássicos do cinema e consagrou Bela Lugosi. Pelo medo de chocar a platéia, houve censura em relação à algumas cenas do filme. Com isso os símbolos do vampiro foram amenizados: não existem no longa os caninos do Conde e o sangue das vítimas. Ainda assim, o personagem causa uma reação considerável no espectador. O vampiro é apresentado em sua figura cruel, alheia ao romantismo e indiferente à necessidade de sugar vidas humanas para perpetuar a sua. Drácula é confiante e manipulador, desfere aos humanos olhares cínicos e sarcásticos. Demonstrando toda a sua superioridade, ele está sempre um passo a frente de suas vítimas. Apenas Van Velsing consegue constranger e antecipá-lo.     
         Em 1958, foi lançado o cultuado filme Drácula, o vampiro da meia noite (The Horror of Dracula, Reino Unido, 1958) de Roy Ward Baker, estrelado pelo ator Inglês, Christopher Lee. Até os dias atuais, “Bela Lugosi e principalmente Christopher Lee são considerados os atores que melhor encarnaram o vampiro Drácula e seus nomes foram consagrados, ficando eternamente ligados a esse famoso personagem do horror” (ROSSATTI, 2010) O maior destaque do filme vai para a interpretação do ator, “encarnando magistralmente o vampiro da noite, dizendo poucas palavras e priorizando as expressões faciais, com seus olhos vermelhos de sangue reproduzindo o ódio e o mal absoluto.” (ROSSATTI, 2010). Christopher Lee, com sua aparência aristocrática, estilo formal e sua altura, contribuiu para o longo sucesso da imagem sinistra de Drácula.  O ator está associado ao cinema fantástico e na inesquecível atuação de diversos vilões. As sequências produzidas pela Harmmer Filmes têm grande importância para a filmografia vampiresca. Foi o primeiro filme de vampiros a fazer o uso da cor e a mesclar terror com sensualidade, repleto de imagens e momentos memoráveis. A obra traz vários aspectos que fazem com que o enredo seja interessante, como imortalidade, poder e sexualidade. O filme se passa em 1885 e apesar de conter o nome dos personagens do livro de Bram Stoker, não se prende a essa narrativa.
        Inicia-se o filme com Jonathan Harker (John Van Eyssen) indo ao encontro de Drácula pelo vilarejo de Klausenberg. Porém, quando chega ao castelo, Harker não nota nada de diferente exceto por não haver pássaros cantando e um súbito frio que sente à medida que entra pelos portões. Ele entra, mas em lugar do vampiro, se depara com uma linda jovem pedindo socorro e se dizendo prisioneira do conde. Quando Drácula aparece, a moça foge. Ele então, educadamente mostra ao bibliotecário seus aposentos e se encanta pela foto de Lucy (Carol Marsh). Sem que Harker perceba, o vampiro o tranca. A bela mulher reaparece, o liberta e alega que Drácula é um homem terrível. Seduzindo o homem, ela se transforma em uma vampira e o morde, mas o conde chega a tempo de salvá-lo.
        Harker se vê vitima do poder do seu algoz e com medo de se transformar em um vampiro, reza para que alguém ache seu corpo e libere sua alma. Decide acabar com a existência do Conde. Quando vê Drácula e a bela jovem em caixões, crava uma estaca em seu peito, transformando-a em uma mulher muito velha. Após transformar Harker em vampiro, Drácula vai para Londres, à procura de Lucy. Dr. Van Helsing (Peter Cushing), amigo do bibliotecário e especialista em criaturas da noite, mata Harker com uma estaca e vai à procura de Drácula. Descobre formas de matar o vampiro, através de luz do sol, alho e crucifixos. Não consegue salvar Lucy de se transformar em vampira e a mata. Van Helsing persegue Drácula, que tenta enterrar Mina (Melissa Stribling), cunhada de Lucy, viva. O doutor encontra o vampiro e deixa cair sobre ele a luz do sol e com uma cruz transforma Drácula em pó. Enquanto isso, Arthur (Michael Gough), irmão de Lucy, consegue salvar Mina de seu sepultamento em vida.
         A produtora Hammer, responsável pelo filme, fez no final da década de 1950 ressurgir o cinema de horror, com vários filmes do gênero vampiresco, como As Noivas de Drácula (Brides of Dracula, Reino Unido, 1960) de Terence Fisher, Drácula, O Príncipe das Trevas (Dracula, Prince of Darkness, Reino Unido, 1965) de Terence Fisher, Drácula, O Perfil do Diabo (Dracula Has Risen From the Grave, Reino Unido, 1968) de Freddie Francis, Sangue de Drácula (Taste the Blood of Dracula, Reino Unido, 1970) de Marc Rocco, O Conde Drácula (Scars of Dracula, Reino Unido, 1970) de Roy Ward Baker, Drácula no Mundo da Mini Saia (Dracula AD, Reino Unido, 1972) de Alan Gibson, e Os Ritos Satânicos de Drácula (The Satanic Rites of Dracula, Reino Unido, 1973) de Alan Gibson, todos estrelados por Christopher Lee.
         Na década de 1970, o mundo cinematográfico estava mudando drasticamente e uma nova geração de diretores como Martin Scorsese, George Lucas, Brian de Palma, Francis Ford Coppola e Steven Spielberg reinventaram os gêneros. Na busca por atrair um grande público jovem, esses diretores que possuíam maior liberdade de criação, deram início aos blockbusters, filmes de sucesso de bilheteria, composto por muita ação e efeitos especiais.
         Seguindo essa linha, o filme A Hora do Espanto (Fright Night, EUA, 1985) de Tom Holland, inspirou diversos outros filmes nos anos 1980, misturando um estilo juvenil, bom humor e terror, tornando-se um clássico da década,
Nos Estados Unidos os teen movies, teen pix ou teen flicks – entre outros termos análogos – constituem uma verdadeira tradição, cujo desenvolvimento se tornou considerável dentro da indústria hollywoodiana a partir dos anos 1950. Naquela época, a juventude norte-americana se consolidava como um lucrativo e promissor mercado, disposto a gastar em variados artigos, como roupas, livros, revistas... e filmes. (BERTÚ, 2007, p. 2)
         A Hora do Espanto foi um marco entre os filmes relacionados a vampiros, pois além de ter sido um sucesso de bilheteria, transportou a temática vampiresca para o universo dos adolescentes. A trama se baseia em elementos clássicos do universo dos vampiros, como dormir em caixão, medo de água benta e crucifixo. Os vampiros se transformam em morcegos e necessitam de convite para entrar na casa de alguém pela primeira vez. Repleto de vários clichês, o filme conta a historia de Charley (William Ragsdale) que desconfia que seu vizinho seja o culpado por vários assassinatos que estão ocorrendo em sua cidade. Ele confirma suas suspeitas quando testemunha a morte de uma bela mulher pelo seu vizinho que possui garras e dentes afiado. Segundo o diretor Tom Holland, o objetivo do filme era fazer um apanhado com todas as convenções de uma tradicional história de vampiros. Peter Vincent (Roddy McDowall) rouba a cena como um dos personagens mais interessantes. Além de ser o conhecedor de todas as histórias de vampiros, o que move a trama do filme, seu nome é uma mistura de dois clássicos do cinema de horror, Peter Cushing e Vincent Price.
        A Hora do Espanto abriu as portas para outras obras, como Os Garotos Perdidos (The Lost Boys, EUA, 1987) de Joel Schumacher, que conta a história de Sam (Corey Haim), um garoto que descobre que seu irmão Michael (Jason Patric) é um vampiro. Com a ajuda de mais dois jovens, “caçadores de vampiros”, ele encontra uma gangue, na pequena cidade de Santa Clara. Sam descobre que a única forma de salvar seu irmão é destruir o vampiro chefe do bando. Os vampiros nesse filme estão ligados a uma rebeldia juvenil, grupos de adolescentes arruaceiros que andam de moto, em alta velocidade, sem capacete, que cultuam o falecido vocalista do The Doors, Jim Morrison, dormem durante o dia e vão a festas à noite. 
        Na década de 1980, não foram produzidos filmes de vampiro somente para o público jovem. Em 1983, foi lançado Fome de Viver (The Hunger. Inglaterra: 1983) de Tony Scott, estrelando Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Miriam (Deneuve) é uma vampira que já vive por séculos e para se manter sempre jovem usa a juventude de seus companheiros. É o caso de John (Bowie) que após séculos de vida começa a envelhecer rapidamente. Sabendo que John não terá mais uma vida longa, Miriam começa a pensar quem será o seu próximo companheiro, até que um dia vê a Dra. Sarah Roberts (Sarandon) na televisão e faz a sua escolha. Ela transforma Sarah em vampira. A Dra. tenta lutar contra a sua nova condição, mas não consegue, ela se sente fraca e procura sua criadora para ajudá-la. Mas pouco tempo após a transformação da humana, os antigos amantes de Miriam voltariam para vingar o cárcere no sótão em caixões de madeira e, principalmente, o fato de ter roubado a sua juventude. Eles conseguem sua vingança fazendo com que Miriam envelheça. O filme acaba com Sarah tomando o lugar de sua criadora.
         Fome de Viver foi um dos primeiros filmes a quebrar a idéia clássica de vampiros: eles não possuem dentes afiados, não dormem em caixões e nem morrem ao sair à luz do sol. Eles conseguem se mesclar muito bem na sociedade, mas pode-se encontrar duas características com grande força nesse filme, a sensualidade e beleza dos vampiros. Miriam é interpretada por Catherine Deneuve, uma das belezas mais frias e estonteantes do cinema. Ela se veste de forma extremamente feminina, sempre de vestido, cabelos longos e louros presos de uma forma elegante, além de ser musicista. Já a personagem de Susan Sarandon, Sarah, é o oposto de Miriam, ela se veste de uma forma mais masculina, sempre de calça e blazer, cabelos curtos e é uma cientista, mas isso não faz com que ela perca a sua beleza e seu charme. Além dessas belas atrizes, temos David Bowie que vive John, com uma beleza enigmática e extremamente sedutora.
         Outros elementos que suscitam essa idéia de beleza e sedução é o fato de todos os personagens fumarem.   Na década de 1980, o cigarro ainda era visto como símbolo de elegância. Miriam e John estão sempre muito bem vestidos com chapéu, vestidos longos e suspensórios. A forma como se portam, a maquiagem e os penteados são dotados de bastante estilo. A decoração da casa onde vivem, com muitas esculturas e móveis mais antigos, não são típicas da década de 1980, mas sim de tempos mais remotos, quando a elegância era muito mais presente do que na época em que o filme é passado. 
         A beleza e o charme dos personagens são os grandes responsáveis pela sedução das vítimas. Além da beleza, outro elemento é o sangue, todo o filme é passado em ambientes escuros, as cores mais presentes são o preto, azul e cores fechadas e pesadas, mas em alguns momentos e circunstâncias é possível perceber a presença de somente uma cor forte, o vermelho. O sangue que aparece no filme se destaca de todo o resto, justamente pelo fato de apresentar uma vivacidade muito grande. Outro elemento que chama a atenção são os lábios de Miriam, sempre vermelhos para realçar a sua beleza e para lembrar do fato de que ela é um vampiro e conseqüentemente se alimenta de sangue. O vampirismo nesse filme é velado, justamente pelo fato de que os personagens de Catherine Deneuve e David Bowie não se encaixam no perfil que o espectador conhece desse personagem. Em nenhum momento, a palavra vampiro é mencionada, mas pelo comportamento apresentado pelos personagens e pela cena da transformação de Sarah, se tem certeza da natureza daquelas belas criaturas. Um dos simbolismos adotados no filme está presente no cordão que Miriam e John usam e posteriormente Sarah. Nele, há o símbolo egípcio para Vida Eterna, esse medalhão possui uma faca que é usada pelos vampiros na hora de se alimentar, essa arma representa para os vampiros a vida eterna, mas para suas presas aquele símbolo representa a morte.
        Como mencionado anteriormente, a fotografia do filme preza por ambientes mal iluminados, em penumbra, apesar do seu exterior sempre apresentar uma claridade intensa. As cenas passadas dentro da casa de Miriam apresentam uma aura gótica. Há tecidos finos que balançam com o vento e mesmo que esses elementos sejam usados para criar ambientes de escuridão e terror, eles ao mesmo tempo dão à cena uma beleza poética e erótica. Na cena em que Miriam transforma Sarah, a textura dos tecidos e a forma como eles voam fazem com que a imagem ganhe leveza, beleza e muito erotismo.
        Além da fotografia, outro elemento que vale a pena ser citado é a trilha sonora já que “A música sublinha uma cena e, frequentemente, a valoriza.” (LAWSON, 1967, p. 226). Ela é uma mistura de composições consagradas de Bach, Delibes e Schubert, com músicas contemporâneas. Na primeira cena do filme, a banda Bauhaus toca a música “Bela Lugosi is Dead”, em um ambiente gótico, onde John e Miriam procuram as suas presas da noite. Uma clara homenagem ao ator que viveu a lendária figura de Conde Drácula no cinema.
        Fome de Viver se apóia em cortes secos para conectar as cenas. Esse artifício é usado para mostrar flashback e desejos dos personagens.  “Aqui tocamos de perto na importância básica da montagem. Seu objetivo é mostrar, plasticamente, o desenvolvimento da cena, guiando a atenção do espectador, ora para um, ora para outro elemento isolado.” (PUDOVKIN, 1971, p. 129)
         O vampirismo é visto de uma forma mais racional, dentro de uma ótica cientifica. É retratado como uma doença na qual um tipo sanguíneo invasor, no caso de Fome de Viver é o sangue de Miriam, trava uma batalha contra o sangue da vitima para a sua dominância. Por ser um tipo de sangue mais forte e resistente à doenças, mesmo sendo muito próximo ao tipo sanguíneo do homem, acaba ganhando a batalha. Pelo fato de não saber o que está acontecendo com o seu corpo e não saber quais são as suas necessidades, o processo de transformação é marcado por muita dor, angústia e fome. O filme ilustra as paixões e aspirações humanas, o homem tem fome de viver e muitas vezes procura isso de forma demasiada e sem se importar com os outros. Também tem muito medo de envelhecer, quer ser jovem e belo para sempre e esses desejos são claramente retratados em Miriam. “A fome de viver aperta o indivíduo, que se vê impelido a buscar e dar continuidade de vida através do sangue, o símbolo perpétuo da vida eterna” (ALMEIDA, 1999). Miriam quer permanecer jovem, mesmo que isso custe a vida de seus companheiros e, para conseguir isso, usa o sangue como uma fonte da juventude. Mas o seu final é trágico, pode-se dizer que por mais que ela tente fugir, o tempo vai alcançá-la.
         Nos anos 1990, as grandes produções dominavam o cinema e a imagem do vampiro como um ser das trevas causava mais interesse por sua aura galante, que pelo terror.  Contrariando a maior parte dos filmes até então lançados, Drácula de Bram Stoker, (Dracula, EUA, 1992) de Francis Ford Coppola, criou um vampiro diferente, mais humanizado, erótico e que sofre pelo amor perdido.
         A narrativa de Coppola é bastante fiel ao livro Bram Stoker. O roteiro foi desenvolvido baseado nos diários que constituem o livro, como o de Harker. Mesmo com o grande numero de filmes que retratam Drácula, somente nessa obra é abordada a questão da origem do vampiro e do sentido de sua condição.  Drácula (Gary Oldman) é mostrado como um príncipe, guerreiro das cruzadas, que luta contra os turcos em 1492 d.c.. Em sua ausência, sua esposa Elizabeta (Winona Ryder) recebe uma falsa carta informando a morte de seu marido.   Desconsolada, ela comete suicídio, acreditando que no paraíso encontraria seu amado. Ao regressar, o Príncipe é informado que sua esposa não iria para o céu por ser uma suicida. Se sentindo traído, o outrora cruzado, rejeita a Deus: “Levantarei da minha própria morte para vingar a morte dela, com todos os poderes das trevas!” (Drácula de Bram Stoker, 1992), crava sua espada em uma cruz que passa a jorrar sangue. Recolhe o líquido em uma taça e o bebe dizendo: “O sangue é a vida. E ele será meu” (Drácula de Bram Stoker, 1992). Drácula é transformado em vampiro e consumido pelas trevas.
        Francis Ford Coppola dirige o filme com liberdade, embora se atenha ao conteúdo da obra literária, e mostra Drácula como uma figura sombria e melancólica, um homem que é profundamente infeliz. Diferentemente do mito e das obras anteriores mais conhecidas, o filme não é completamente monstruoso. A história contém elementos realísticos, com fatos sustentáveis e uma visão única: o deslocamento do terror para a busca pelo amor. O lado monstruoso do Conde Drácula fica claro na morte de Lucy (Sadie Frost), mas ele hesita no momento de transformar sua amada Mina (Winona Ryder) em vampira para segui-lo para sempre: "Não, não posso condená-la! Você é carne da minha carne, sangue do meu sangue" (Drácula de Bram Stoker, 1992). As cenas de medo são minuciosamente executadas, como a sombra do Conde que tem vida própria e a cena em que, medonhamente, ele anda pelas paredes do castelo. Os destaques do filme são a maquiagem, o figurino e os cenários. Drácula apresenta uma aparência pálida e assustadora, as unhas compridas, o olhar quase maníaco, as roupas estranhas e a forma de se portar e agir, doce, mas sempre ameaçadora. 
        Em Entrevista com o vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles, EUA, 1994) de Neil Jordan, baseada da obra homônima da escritora Anne Rice, a imagem da raça vampira exclusivamente como predadora cruel e indiferente é definitivamente questionada por uma visão existencialista da “maldição da noite”. Segundo Lawson, “Todas essas diferentes formas pretendem demonstrar que a agressão e a violência são aspectos inatos a natureza humana.” (1967, p. 72). Entrevista com o vampiro cumpre dignamente o papel de demonstrar a ambigüidade do ser humano, explicitando a existência dos dois lados: bom e mal. 
        No suspense dirigido por Neil Jordan, com roteiro e acompanhamento da própria Anne Rice, Louis (Brad Pitt) concede uma entrevista a um jornalista na década de 1990. Logo nesta cena, já se nota um dos elementos muito usados em filmes com a mesma temática: a penumbra. O clichê é quebrado quando o personagem de Brad Pitt acende a luz e se revela para o seu entrevistador.   Louis se apresenta como um vampiro e a despeito da descrença inicial do repórter, inicia sua história de mais de 200 anos. Louis era responsável por uma grande plantação em Nova Orleans em 1871, quando perde sua mulher e o filho durante o parto. Com a tragédia, se torna destrutivo e ao contá-la analisa o fato da seguinte forma: 
                            Não suportava a dor da perda; queria me livrar dela. Queria perder tudo: minha riqueza, minha propriedade, minha sanidade. Mais do que tudo, eu queria morrer. Eu sei agora, eu a atrai. Uma libertação da dor de viver. Meu convite estava aberto a qualquer um. À prostituta ao meu lado. Ao cafetão que seguia. Mas foi um vampiro que o aceitou. (ENTREVISTA com o vampiro, 1994)
          Lestat (Tom Cruise) começa a observar Louis e sua vontade de encontrar a morte. Nas cenas em que ele o segue não é possível ver seu rosto, ora por estar muito escuro, ora por aparecer somente de costas. Com seu pensamento assassino, morde Louis e finalmente vê-se seu rosto.   Ele o deixa entre a vida e a morte, e pergunta: “Ainda deseja morrer ou já experimentou o suficiente?” (Entrevista com vampiro, 1994). A resposta é rouca e demasiado fraca: Suficiente. Lestat drena o sangue de Louis e o troca pelo seu, assim ocorre a morte da parte humana dele, que realiza seu desejo de encontrar a morte em vida. A partir desse momento, Louis começa a perceber algumas mudanças: sua visão fica muito mais aguçada, ele passa a atrair a atenção das pessoas mais facilmente, além de sentir fome   e   sede   que   nunca   sentira   na   vida.   No momento que ele descobre como deve se alimentar começa o seu embate existencialista sobre a culpa que sente, tanto por sua nova condição quanto por matar. Louis não acha certo tirar a vida de um ser humano para aplacar os seus desejos, ele é apaixonado e sonhador. Lestat parece compreender e atacar o íntimo de Louis quando sarcasticamente diz: 
                             Como você ama essa maldita culpa e justifica suas atrocidades dizendo que O mal é um ponto de vista, Louis. Você é o que é! A dor é terrível para você? Sente-a como nenhuma outra criatura porque és um vampiro. Não quer continuar a sentir dor? Então faça como manda a sua natureza!”(Entrevista com o Vampiro, 1994)
         A diferença entre Lestat e Louis é gritante. Lestat é um sádico que gosta de ver o sofrimento das pessoas e aproveita cada momento da sua caça, enquanto Louis compadece de suas vitimas. Porém, de certa forma eles se completam, um não pode viver sem o outro, assim como em todas as relações em que os opostos se complementam. A trama se desenrola no momento em que Louis morde a pequena Cláudia (Kirsten Dunst), deixando-a entre a vida e a morte.  Atormentado por sua consciência, ele foge desesperado. Lestat o traz de volta e apresenta seu feito: ele impediu que Cláudia morresse, transformando-a em vampira. Por muito tempo, o trio se transforma em uma família feliz. Cláudia é a aprendiz de Lestat com sua sede de sangue sem limites e o refúgio de Louis em sua existência desolada. Mas a menina se torna mulher aprisionada no corpo de uma criança e vive um amor platônico com o próprio Louis. Ela se revolta com sua condição e tenta matar Lestat. Para tentar encontrar outros de sua raça, Claudia e Louis decidem viajar para o velho continente. Durante a viagem, o navio, apesar de estar livres de ratos, sofre uma estranha "praga". Essa passagem do filme é referência a Nosferatu: na viagem para encontrar sua amada Ellen, o Conde mata todos os tripulantes do navio e o fato é atribuído a uma misteriosa praga. 
         Após muito tempo em Paris, eles encontram uma sociedade de vampiros, liderados pelo enigmático Armand (Antonio Banderas) e são convidados a comparecer a uma apresentação no Théâtre des Vampires. As criaturas que encontram são muito diferentes, pelos seus poderes e por parecerem muito mais fortes. Esta sociedade vê os dois visitantes como os representantes do Novo Mundo, um lugar em que nenhuma tradição é respeitada e seguida. Louis enxerga neles, justamente pelo fato de serem mais velhos, uma fonte de conhecimento.  O clã forma uma corte que julga Louis e Cláudia pelo pior crime aos olhos dos vampiros: matar alguém de sua própria raça. Ela é condenada a morte e ele é salvo por Armand. Mas após a morte de Cláudia, Louis, o vampiro cheio de princípios, se vinga assassinando todo o clã, deixando vivo apenas Armand.
         Como Drácula de Bram Stoker, o filme humaniza os vampiros e lhes confere valores e necessidades humanas. “O cinema sempre oscilou entre dois pólos, o de oferecer um novo padrão de representação realista e (simultaneamente) o de apresentar um sentido de irrealidade, um reino de fantasmas impalpáveis.” (GUNNING, 1996, p. 25). Por isso, estes personagens possuem características mais próximas da realidade, como o afeto e companhia, juntamente com a sensualidade e o fascínio dos seres fantásticos. Anne Rice conseguiu, através de sua narrativa, transformar os vampiros em algo mais parecido com os humanos, os personagens dominavam suas vitimas justamente por este fascínio e não pela força. Vampiros que amam, sofrem com o mundo, passam por crises. Ainda que difiram muito em termos de personalidade, são coerentes quanto à beleza.   Propositalmente foram escolhidos para o elenco, galãs de Hollywood como Brad Pitt, Tom Cruise e Antônio Bandeiras, assim com a própria Kirsten Dunst, para a angelical Cláudia.
         Em 1998, inspirado nas histórias em quadrinho da Marvel, surge no cinema Blade – Caçador de Vampiros (Blade, EUA, 1998) de Stephen Norrington. Interpretado pelo ator Wesley Snipes, Blade é um híbrido, meio homem e meio vampiro, pois sua mãe foi mordida momentos antes do parto.   Assim, ele se tornou poderoso e imortal, não possuindo as fraquezas dos vampiros, como ser ferido por prata, alho e luz do sol. Blade jurou vingança contra todos os seres da noite, tornando-se o “caça vampiros”. Nessa missão, conta com a ajuda do amigo Abraham Whistler (Kris Kristofferson) e Karen (N´Bushe Wright) uma mulher que quer voltar a ser normal. O filme teve duas sequências. 
         Em 2003, tem início a saga Anjos da Noite (Underwold, EUA, 2003) de Len Wiseman. Baseado nos Real Player Games, jogos muito populares entre adolescentes e jovens adultos. O filme traz à tona a guerra entre vampiros e lobisomens, chamados de Lycans. Anjos da Noite narra de forma não linear o histórico conflito entre as duas espécies. Com fotografia escura, o filme ganha ares soturnos e góticos, ressaltados pela trilha com guitarras pesadas e pelas roupas pretas dos personagens, atraindo a atenção de jovens de todo o mundo. Anjos da Noite não é um filme de terror, é um filme de ação, com cenas de perseguição e tiroteios. Na trama, vampiros vivem nos dias atuais como em um mundo paralelo, mantendo o segredo sobre sua natureza predadora. Vivem em clãs unidos por laços de sangue, possuem grandes caninos, ficam mais fortes com o passar do tempo. São sensíveis à luz do sol, perambulam pela noite, mantendo distância dos humanos que desprezam, usam armas modernas com munições especiais. Além disso, enfrentam Lycans que conquistaram a capacidade de se transformar independentemente da lua cheia e são vulneráveis a prata. Selene (Kate Beckinsale) é uma vampira guerreira obcecada pela luta contra os lobisomens. Após um embate contra os inimigos em plena estação de metrô, ela observa o interesse  estranho  que os  Lycans  demonstraram  por um  humano, Michael  Corvin  (Scott Speedman). Alarmada, informa o ocorrido a Kraven (Shane Brolly), atual líder do clã. A despeito das ordens recebidas de ignorar o incidente, Selene captura Michel, sem saber que ele  foi mordido por Lucien (Michael Sheen) e que na próxima lua cheia se tornará um Lycan. Outro fato que ela ignora é que se apaixonará pelo novo lobisomem, vivenciando mais uma história de Romeu e Julieta. A guerra ganha novos contornos quando Selene descobre coisas terríveis sobre sua própria origem e os anciões, e se revolta contra seu próprio clã, contando com a ajuda de Michel que se torna um híbrido muito poderoso.
        Anjos da Noite reafirma o poder dos vampiros desde tempos muito remotos, além de mostrar todo o glamour da vida noturna das criaturas através de festas consideráveis e figurinos magníficos. Assim como o Drácula dirigido por Copolla, Underwold cria sua versão sobre a origem do vampiro. Segundo a história, Alexander Corvinus, governante do Século V, teria sobrevivido a uma praga que devastou sua aldeia e conseguido fazer com que a doença se moldasse a seu favor, se tornando o primeiro verdadeiro imortal. Posteriormente seus dois filhos seriam mordidos, um por um morcego e o outro por um lobo, dando origem às duas espécies.
        Anjos da Noite - A evolução (Underworld - The evolution, 2006) de Len Wiseman, continua contando a história de Selene e Michael que dessa vez terão que enfrentar Marcus (Tony Curran), o vampiro mais velho e mais forte que também é descendente de Corvinus e quer libertar seu irmão. Selene não confia em Marcus, mas se vê obrigada a contar com ele para alcançar seus objetivos. No início de 2009, foi à vez de Anjos da Noite: A rebelião (Underworld 3: Rise of The Lycans, EUA, 2009), do diretor Patrick Tatopoulos, o terceiro filme da série que retorna no tempo e mostra o início do conflito. A história já conhecida através dos flashbacks dos dois outros filmes é contada de forma mais minuciosa e mostra como Lucian, até então escravo de Viktor (Bill Nighy), se apaixona por sua filha, Sonja (Rhona Mitra). Para impedir o nascimento de um ser mais poderoso, misto das duas raças, Viktor condena a própria filha a morte e a abandona para ser queimada pelo sol ante os olhos do acorrentado Lucian.
         Em 2008, chega aos cinemas Crepúsculo (Twilight, 2008), da diretora Catherine Hardwicke. O primeiro filme da série de mesmo nome adaptada dos livros de Stephenie Meyer. Os quatro livros da saga já venderam 50 milhões de copias e foram publicados em 43 países (FOLHA Online, 2009). O sucesso do best seller foi um dos fatores mais relevantes para sua adaptação. Crepúsculo traz para o cinema um vampiro diferente, mas que logicamente guarda suas semelhanças com o histórico cinematográfico, se apresentando como um novo marco no caminho percorrido pela imagem do vampiro. Nesta nova saga, recebe contornos muito mais românticos que medonhos. Segundo Ribeiro,
                             Crepúsculo não é um filme de terror. [...] o sobrenatural é um elemento diferenciador do personagem do vampiro, que, nem de longe, ocupa o lugar central. [...] os vampiros gravitam em torno de mulheres. Vemos aí uma nova abordagem do vampirismo. Os [...] personagens deixam de serem monstros aterradores e se transformam nos novos príncipes encantados do milênio. Eles garantem proteção às mulheres amadas, poder e juventude. E, é claro, são produtos midiáticos destinados mais ao público feminino. As belas, portanto, domesticaram as feras. (2009, p. 13 /14) 
         A Saga Crepúsculo foi adotada pelos jovens, principalmente mulheres, romantizando a imagem do outrora monstro através de um vampiro apaixonado. Este público apresenta um grande potencial mercadológico, pois tem mais suscetibilidade ao fantástico, respondendo positivamente à bilheteria e aos produtos relacionados. Os vampiros de crepúsculo são consonantes da nova representação que esta figura recebe na atualidade. Doce, meigo, protetor, bonito, charmoso e heróico. O personagem de Meyer é um príncipe encantado que brilha ao sol e, quase por acaso, é um vampiro. Edward (Robert Pattinson) é considerado por Bella (Kristen Stewart) o homem mais bonito que já existiu. E ainda terá 17 anos para sempre. Além de nunca ter se interessado por nenhuma garota do colégio, ele a salva em varias ocasiões como se fosse o seu protetor. Posteriormente se apaixona por Bella, uma garota comum.
         Percebe-se que os vampiros deste filme buscam a realidade de qualquer adolescente e ao mesmo tempo uma fantasia. São vampiros inseridos na sociedade. Eles estudam, freqüentam um colégio normal, têm amigos, usam a internet, se vestem e falam como jovens, vivem algumas crises dessa idade como o primeiro amor e vão ao baile da escola, um importante rito de passagem para um humano na cultura americana. Edward assim como Louis, de Entrevista com Vampiro, aborda o caráter angustiante de tirar a vida de um ser humano. Assim, o vampiro de Rice questiona seu criador se seria possível viver somente com sangue de animais. Lestat responde: “Não chamaria de vida, mas de sobrevivência” (Entrevista com o Vampiro, 1994). Da mesma forma, Edward ao explicar seus hábitos alimentares para Bella diz: “Eu compararia isso a viver á base de tofu e leite de soja; nós nos chamamos de vegetarianos, nossa pequena piada privada. Isso não sacia completamente a fome, e nem a sede. Mas torna-nos fortes o suficiente para resistir” (Crepúsculo, 2008). As semelhanças entre os dois protagonistas são muito maiores do que entre os outros personagens apresentados. Ambos não querem transformar ninguém, condenando outrem à “vida” a qual estão presos. Assim, Edward prefere correr o risco de matar sua amada, por talvez não conseguir se controlar, do que transformá-la em vampira. Ainda que difiram em outros pontos, observa-se que assim como os personagens construídos por Stephanie Meyer, John e Miriam (Fome de viver) e Drácula (de Copolla) podem sair à luz do sol. Outra similaridade na história de Drácula de Bram Stoker e Crepúsculo é o amor eterno e incondicional entre um vampiro e uma humana.
         Novamente os vampiros são sedutores, elegantes, belos e fortes. Suas características fazem com que as presas se sintam atraídas. Talvez as inovações que os vampiros do filme Crepúsculo possuem sejam: a casa em que moram, que diferente do que se espera (fechada e escura) é moderna (feita em vidro, aberta e clara). Há uma forte relação afetiva entre os moradores da casa de Edward, uma família, que posteriormente se estende a Bella. Outro diferencial importante é o controle que eles têm sob o desejo de se alimentar de sangue humano. Carlisle (Peter Facinelli), que é considerado o pai desta família, tem tanto controle sob seus instintos que se torna medico e trabalha em um hospital. 
        Crepúsculo teve o orçamento de US$37 milhões, considerado baixo para os padrões de Hollywood. Justamente por isso, foram usados alguns artifícios para baratear a sua produção. Praticamente todas as cenas foram feitas em externas, com pouco conteúdo filmado em estúdio, menos efeitos especiais, substituídos geralmente por jogos de câmera. O orçamento se reflete novamente na escolha de atores, a maioria é desconhecida. Mesmo com a pequena verba Crepúsculo se tornou um blockbuster, arrecadando mundialmente US$400 milhões (FOLHA Online, 2009). O sucesso do primeiro filme da saga abriu caminho para suas sequências. A exorbitante bilheteria e a repercussão no meio jovem, percebido principalmente na internet, em redes sociais e eventos relacionados tornaram a marca Twilight popular. Seguindo exemplos de Star Wars e outros filmes de sucesso, a marca vem se mostrando um produto amplamente rentável, não só através das bilheterias, como através de produtos. Para conquistar este enorme sucesso é necessária uma competente estratégia de marketing. O conjunto de ações que tornou Lua Nova uma produção cinematográfica de sucesso teve como foco o ambiente virtual. A internet foi à grande aliada no lançamento do segundo filme da saga Twilight. Para entender as ações de marketing que levaram Lua Nova a superar Crepúsculo em bilheterias, torna-se necessário entender um pouco mais sobre o marketing dentro do ambiente cinematográfico.  
O VAMPIRO NO CINEMA: Um estudo de caso sobre as ações de comunicação do filme Lua Nova. Ana Gariglio Lima, Ferrnanda Andrade Januzzi, Gabriela Pontes Vaz, Isabella Cristina Ferreira dos Santos

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