Resenha da Drica: Precisamos Falar Sobre Kevin, Lionel Shriver


Autora: Lionel Shriver

Editora: IntrĂ­nseca

PĂ¡ginas: 464


Para escrever Precisamos Falar sobre o Kevin, em 2007, a escritora Lionel Shriver estudou dezenas de casos. E usou essas histĂ³rias para criar a de Eva, uma mulher de 40 e poucos anos que reexamina a sua trajetĂ³ria em busca dos motivos que podem ter transformado seu filho, Kevin, num assassino.

A histĂ³ria Ă© narrada atravĂ©s de longas e detalhadas cartas ao pai do menino, onde ela analisa o prĂ³prio casamento, o impacto da maternidade sobre sua antiga vida e momentos significativos da infĂ¢ncia de Kevin. Seu relato Ă© escandalosamente sincero, pontuado por confissões como a de um dia ter parado no meio da rua, diante das britadeiras de uma construĂ§Ă£o, e fechado os olhos de prazer ao notar que as mĂ¡quinas encobriam o som do choro incessante de seu bebĂª, recĂ©m-nascido. (porque serĂ¡ que me identifico com ela nessas situações???)


A histĂ³ria mostra uma mĂ£e dividida entre o desejo de liberdade e a exigĂªncia auto-imposta de ser uma mĂ£e feliz e perfeita. Swinton consegue expressar a dificuldade que Eva tem de estabelecer um vĂ­nculo com o prĂ³prio filho e, ao mesmo tempo, fazer com que o espectador nĂ£o a considere um monstro desalmado. Ela interpreta uma mulher cujo espĂ­rito aventureiro-mochileiro Ă© morto a pauladas pelo ‘amor’. Apaixonada, ela acaba por admitir a vida sossegada de esposa e mĂ£e. Na verdade, Eva Katchadourian nĂ£o queria ser mĂ£e nem esposa, pois sabia nĂ£o levar jeito para nenhum dos dois cargos. Mas acaba dando Ă  luz, e traz ao mundo aquele que sĂ³ lhe trarĂ¡ agonia e desespero. É mais ou menos aquele ditado: ‘Cuidado com o que vocĂª deseja, pois o seu desejo pode lhe ser concedido.’

 Kevin Ă© o pesadelo em forma de criança/adolescente; Ă© malcriado, mimado, dissimulado, grosseiro. Trata-se de um psicopata, desde a mais tenra infĂ¢ncia e assim seria mesmo se fosse filho de uma mulher preparada para ser mĂ£e.

 Por meio de sua histĂ³ria angustiante, "Precisamos Falar Sobre Kevin" discute a maternidade, as relações entre pais e filhos e como surgem os comportamentos cruĂ©is.

Precisamos Falar Sobre o Kevin

We Need to Talk About Kevin

EUA / Reino Unido , 2011 - 112 minutos

Drama

DireĂ§Ă£o: Lynne Ramsay

Roteiro: Lynne Ramsay, Rory Kinnear

Elenco: Tilda Swinton, Ezra Miller, John C. Reilly, Jasper Newell


Muitos pais devem ter deixado o cinema, depois de assistir a “Precisamos Falar Sobre Kevin”, se indagando sobre o tipo de relaĂ§Ă£o que tĂªm com os filhos. Se procuram entendĂª-los e se conhecem a si prĂ³prios o bastante para lidar com eles.

 Ramsey muda a estrutura de cartas adotada por Shriver em seu livro, em que Eva se dirige a Franklin, para uma montagem em flashback. O que era uma questĂ£o familiar torna-se um pesadelo social, com a comunidade culpando-a pelo que aconteceu com o filho.


HĂ¡ todo um clima para traduzir seu estado de espĂ­rito. Os tons brancos, quase neutros, das sequĂªncias de Kevin, o vermelho-sangue nas paredes de sua nova casa, a sombria mansĂ£o onde morava antes da tragĂ©dia, ambiente opressivo por ser desproporcional ao tamanho dos membros da famĂ­lia, e, sobretudo, o alheamento de seus colegas de trabalho. Em suas idas e vindas, mesclam-se presente e passado, traduzindo o limbo em que se tornou sua vida. Pode ser uma puniĂ§Ă£o a ela e um alerta aos pais em geral.

 A relaĂ§Ă£o sempre tensa entre Eva e Kevin (quando adolescente, interpretado por Ezra Miller, da sĂ©rie de TV Californication) Ă© o que pauta a trama que transita entre o presente - quando ele estĂ¡ preso - e o passado - a vida em famĂ­lia antes da tragĂ©dia.

 A ausĂªncia de Precisamos Falar Sobre o Kevin na lista dos indicados ao Oscar Ă©, ao mesmo tempo, uma injustiça e um indĂ­cio. A injustiça fica por conta, especialmente, da falta de indicaĂ§Ă£o de Tilda Swinton, e o indĂ­cio Ă© o de que o filme fala de uma questĂ£o com a qual os norte-americanos ainda nĂ£o sabem lidar.


Mas teria Kevin nascido mau ou a criaĂ§Ă£o de Eva e o excesso de permissividade de Franklin o teriam transformado num menino perverso? Precisamos Falar Sobre o Kevin beira um estudo de caso, mostrando o que aconteceu com esse garoto - certamente outras pessoas, nas mesmas circunstĂ¢ncias, agiriam de forma diferente.

Este nĂ£o Ă© um filme fĂ¡cil de se ver... A discussĂ£o e implicações que o filme levanta fazem pensar que ainda vamos falar sobre Kevin por muito tempo. Ou, pelo menos, deverĂ­amos.


Toda essa discussĂ£o sĂ³ me faz ter a certeza de que nĂ£o quero ser mĂ£e, Eva arriscou e veja no que deu...


Um comentĂ¡rio

  1. Conheço este livro a um bom tempo, e Ă© muito interessante. Com certeza, Ă© uma estĂ³ria tensa e um assunto forte para ser abordado, pois sempre nos perguntamos o que leva a uma criança ou adolescente a praticar atos violentos e Ă© impossĂ­vel nĂ£o questionar se os pais tĂªm culpa. É interessante a autora colocar no papel principal a mĂ£e do garoto, pois ela tambĂ©m parece se questionar sobre se ela tem culpa de alguma coisa. Muito bom a autora ter se baseado em pesquisas de histĂ³rias reais para construir esta obra. Fico na curiosidade em saber se vamos chegar a alguma conclusĂ£o, apĂ³s a leitura, sobre este assunto. Este Ă© uma assunto que deveria ser abordado e discutido mais.
    Ainda nĂ£o vi o filme, mas o livro, quero ler logo.
    beijos!

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