O beijo não vem da boca


Afinal, se bem pensado, o beijo não vem da boca.

Ele, no máximo, termina nela.

Quando o beijo é tão somente o encontro das bocas, nem sequer é mais um beijo.

É qualquer coisa. Não é beijo.

Eu me lembro de um sem-fim de beijos que dei. E não me lembro da maioria.

Os que me lembro, eram mesmo beijos.

Não vieram meramente da boca.

Mas, afinal, se não vem da boca, de onde vem o beijo?

Talvez o beijo venha da vontade da conjunção, da união, da descoberta, da vontade da conquista.

É a primeira parte de algo, é a expectativa de algo mais.

Aquele beijo que se dá sem nem saber quem se está beijando, não é beijo.

A mera coleção de bocas onde se encosta não é beijo.

Beijo tem que ser sentido.

Seja amor, paixão, tesão.

Mas tem que ser sentido e, nesse caso, não vem da boca.

Tem outras origens.

Isso é beijo!

O resto é troca de saliva.

Baba trocada.

Nada além.

Ignácio de Loyola Brandão

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