À Convite: Ilmara Fonseca - No reverso do viés


"No reverso do viés" é o 4º livro de Amélia Alves, poeta e educadora, nascida em Campos dos Goytacazes, RJ, graduada em Letras, em Português-Inglês, pela Faculdade de Filosofia de Campos (UNIFLU). Mestre em Educação pela UERJ, publicou Vácuo e paisagem (Grupo Uni-verso, 1978), Atrás das borboletas azuis (Oficina do Livro, 2005), e o vol. 49 da coleção 50 Poemas escolhidos pelo autor (Galo Branco, 2009). O livro recebeu o 2º lugar no Concurso Internacional de Literatura da UBE-RJ, do Prêmio Pizarro Drummond, em 2009, na categoria poesia de livros inéditos. Prefaciado por Olga Savary e ensaio de Ivan C. Proença.
No reverso do Viés
Amélia Alves
Ano: 2015 
Páginas: 116
Idioma: português 
Editora: Ibis Libris

Falar de poesia para mim é algo fácil e, ao mesmo tempo, difícil. É fácil porque é um gênero que aprendi a gostar desde cedo, com as minhas primeiras leituras. Por outro lado, é difícil expressar com palavras, escrever sobre algo que mobiliza nossas emoções e sentires, que promove um encontro com o que guardamos dentro de nós e muitas vezes nem sabemos que está lá guardado.

Conhecer a doçura e a elegância da poesia de Amélia Alves foi um grato presente. Foi uma leitura prazerosa e rápida, que fluiu com a leveza dos versos e a beleza de suas palavras, construções e linguagem. Seus poemas versam sobre as mais variadas temáticas, passeiam pelas formas, por estilos e por construções que se modificam durante todo o livro e traçam um rápido contorno também da poeta que ali se revela. Temos amor, vida, ancestralidade, amizade, sonho, paisagens e reflexões filosóficas emaranhadas nos versos e nas páginas de No reverso do Viés.


O livro está dividido em duas partes: Reverso e Viés, cada um com 30 poemas e ainda conta com um prefácio de Olga Savary, que contextualiza a obra e apresenta-nos de forma muito didática os elementos da construção literária de Amélia Alves. No final do livro há a Fortuna Crítica, que traz mais informações sobre a produção escrita da autora.

Amélia usa a poesia com muita propriedade para falar sobre si mesma e também sobre o fazer poético. Deixa claro que este é o fruto de construções coletivas que se engendram nos encontros que temos com os nossos semelhantes, como mostra no poema Escritura, que foi dedicado a uma aluna e celebra tais momentos:
  
Escrever é traduzir-me ou optar
Por um momento fortuito de mim para mim
Ou dividir-me entre ser e ter
(...) privar-me do que se transforma em perda
E me orienta e abriga o ter-me,
Perdida entre deserto e abismo,
(...) por-me em voz, sorte e alerta
Do que me faz forte e desperta
E me desvela em claro e escuro,
A reencontrar-me além do muro,
Que me separa do que me sei ser tudo,
Enquanto sigo por caminho secreto e mudo.

Há também uma forte presença da ancestralidade e origens em sua poesia, que revela a beleza da fé, do ritmo e das lembranças dos mais velhos, como nos poemas Iemanjá, Canjerê e Ancestrais.

Quando o couro come a gente dança
Quando a gente dança o coro canta,
Quando a gente canta o povo samba.
Samba, samba, samba, lelê,
Na beira da praia,
Bate, bate, bate, tambor,
E levanta a saia, lálá.

Por fim, como em todos os versos que conheço, não há como falar em poesia e não falar em amor. Este é muito bem retratado nos versos de Amélia, que o caracteriza como este sentimento paradoxal, mas desejado e tão bem conhecido de todos nós, como revela no poema Reverso:

Escuta, amor, o que em mim se entranha.
Vem de mansinho, sem dor nem perigo,
Que te vejo sempre como acolhida,
Que te quero entanto para toda a vida.

A diagramação do livro, com arabescos em cada início de poema e o papel amarelo de excelente qualidade, associados à capa que traduz a força e a elegância da obra, conferem a No reverso do Viés, um lugar privilegiado na nova safra da poesia brasileira contemporânea. É um livro de poesia, sobre poesia e sobre autoria também. Para ler, sentir, pensar e emocionar os mais diversos leitores. Recomendo!



10 comentários

  1. Antes lia sempre uma poesia que me interessava, mas fui deixando de lado, até que parei de ler e hoje já não leio mais. Não me sinto mais atraída por poesia como antigamente então essa vai ser uma dica que vou deixar passar.
    Beijos.

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    1. Entendo, Franciele. Posso te dizer apenas que a poesia é também encontro. Quem sabe um dia esse encontro acontece e você se apaixona por ela? Beijos! ;)

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  2. Ilmara!
    Acabei de ler esse livro e foi uma delícia!
    Adoro poesias e vê-las retratadas de forma tão visceral, carregada de sentimento e mostrando os sentimentos e homengens feitas pela autora, foi uma leitura muito prazerosa mesmo.
    Desejo uma semana mais que tranquilo e abençoado!
    “Deus com Sua infinita Sabedoria, escondeu o Inferno no meio do Paraíso para que nós sempre estivéssemos atentos.” (Paulo Coelho)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE AGOSTO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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    1. A escrita dela é mesmo uma delícia, né Rudy? Que bom que gostou! Beijos! ;)

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  3. Confesso que não sou fã de poesias, mas o livro parece ser muito bom, as poesias expressam sentimentos, nos deixam refletindo sobre elas e nos deixam até comovidos.

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    1. Sim, Maria.Poesia vai além da leitura porque tem muito de emoção, de encontro mesmo...Ainda que o gênero não seja os eu preferido, ela toca você de alguma forma. Beijos! ;)

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  4. De um tempo para cá tenho gostado bastante de livro de poemas, principalmente estes que demonstram sentimentos dos quais podemos facilmente nos identificar com o que é descrito. A autora tem uma facilidade de expressar por meio das palavras, por isto me senti muito interessada nesta obra, espero gostar.

    Participe do TOP COMENTARISTA de AGOSTO, para participar e concorrer Ao livro "Dois Mundos", o primeiro da série "Tesouros da Tribo de Dana" da escritora Simone O. Marques, publicado numa edição linda pela Butterfly Editora.
    http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/

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  5. Ilmara, querida,
    Leitura sensível e bem situada, sua resenha muito engradece minha obra.
    Beijo,
    Amélia Alves

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    1. Muito obrigada! Sinto-me honrada com a sua presença em minha resenha e agradeço pela sua poesia, semente fértil e cheia de luz em nossa literatura contemporânea! Um abração! ;)

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