À convite: Ilmara Fonseca - Maria Isabel & Soraia

"Luiz Henrique parecia ouvir as lamúrias de Maria Isabel. Acordou, sorriu e a puxou para abraçá-la e beijá-la. Ficaram juntinhos sem nada dizer. Ela deixou as lágrimas rolarem, e ele, claro, não percebeu. Como mulher, deseja dizer tudo que guardava em seu coração, mas não teve coragem de expor seus sentimentos e se calou."
Não se destrua, Soraia! Você não merece isso!, pensou ela, deixando a força de sua mente se manifestar, olhando fixamente para sua imagem no espelho. Se não ficaram juntos, é por que não era o destino. Tem que encarar essa verdade!"


Maria Isabel e Soraia
Mulheres em cena #Volume 1
Ano: 2017 
Páginas: 176
Idioma: português 
Editora: Bambual

Olá, amigos leitores! Tudo bem com vocês? 

Hoje trago um pouco das minhas impressões com a leitura do segundo volume do projeto Mulheres em Cena, desta vez a prosa envolvente de Nara Tosta e suas personagens fortes e reais, no livro Maria Isabel e Soraia. Trata-se de uma narrativa curta, fluida e com muita veracidade em sua história. Maria Isabel e Soraia são o retrato fiel de muitas mulheres brasileiras e carregam consigo o peso de uma sociedade machista tanto em sua história de vida, como em suas relações amorosas.

O livro está dividido em duas partes, ambas escritas em primeira pessoa e cada uma traz a história de uma das protagonistas. Na primeira parte conhecemos Isabel, uma mulher que vive para o lar, é uma dona de casa, e está enfrentando sérios problemas em seu casamento. A relação já não é mais a mesma e por mais que ela tente chamar a atenção do marido, são nítidos a falta de interesse e o distanciamento entre eles. 
Ela tenta, mas sempre as suas investidas são frustradas e ela se distancia ainda mais. Neste processo de distanciamento ela acaba se envolvendo com outros homens, tendo assim relações extraconjugais. E claro, é assolada pela culpa de estar traindo o seu marido. Achei interessante a forma como a autora abordou esta questão, pois trouxe um viés diferenciado, mostrando que a mulher sempre é muito mais culpabilizada e que a traição pode ser consequência de vários problemas, sem trazer os conhecidos julgamentos morais. A autora não faz uma apologia à traição, mas mostra que as mulheres também traem. 

Na segunda parte conhecemos Soraia, uma mulher que muito cedo foi impedida de realizar as suas escolhas e lhe foi imposto um casamento arranjado. Aos 17 anos se viu num relacionamento com um homem que não amava e que cerceava as suas liberdades individuais, impedindo-a de trabalhar e de gerenciar a sua vida. Este casamento lhe deu dois filhos e anos depois ela finalmente conseguiu se libertar e dar um fim a esta relação. Esta nova fase se completa com a sua realização profissional, pois ela consegue montar o seu próprio negócio. Mas como nada é perfeito, questões do passado e de um amor antigo a fazem mergulhar numa depressão profunda que se materializa num alcoolismo. E é preciso retirar forças de onde ela não imaginava haver para sair deste momento tão delicado. 

As duas histórias são bem reais e as personagens também. Maria Isabel e Soraia são muitas mulheres que conhecemos e encontramos todos os dias, oprimidas pelo machismo, pela impossibilidade de gerirem suas vidas, pela culpa, pela dor. As narrativas são fluidas numa linguagem bem simples e acessível, mas também cuidadosa e delicada. 

É um livro curto, mas que traz em seu âmago reflexões complexas sobre o papel da mulher nos relacionamentos e a capacidade de empoderar-se, agindo e transformando a sua existência. É também um livro lindo enquanto objeto, com páginas coloridas, excelente diagramação, capa muito libem feita e que aliado à história, torna-se uma grande indicação de leitura. Recomendo! 


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