Obsessão, texto da Paula Pimenta


É impressionante como algumas pessoas se acostumam com o sofrimento, gostam de cultivar a dor, parecem achar bom ter sempre algum tipo de angústia para se gabar. Conheço alguém exatamente assim: uma garota que é “fã” de um dos meus amigos. A paixão da menina é tanta que não cabe outro nome, ela realmente o trata como se fosse um ídolo.

No começo, acho que ele até gostou. Natural. Duvido que alguém não goste de receber atenção e de ser um pouco bajulado… Um pouco, mas aquela fixação 24 horas por dia acabou cansando e o meu amigo resolveu dizer com todas as letras que só queria a amizade da menina. Porém, ela fingiu que nem ouviu e continua acompanhando cada um dos passos dele, chorando a cada vez que ele aparece com outra e se alegrando com migalhas de sorrisos que ele oferece a ela por educação.
Quando eu tinha uns 12 anos, vivia apaixonada por artistas de televisão. Mas, apesar da pouca idade, eu tinha consciência de que eram amores impossíveis. Seguia gostando apenas pelo prazer de gostar. Aos poucos, porém, fui percebendo que amor unilateral não é o melhor que existe e passei a me interessar por pessoas que ao menos tivessem possibilidade de retribuir o meu afeto. Claro que, como grande parte das adolescentes, eu gostei platonicamente de muitos garotos, mas essas paixões terminavam da mesma forma que começavam: do nada. Era só perceber que não tinha a menor possibilidade daquele menino se interessar por mim que aquele amor todo, que eu julgava sentir, evaporava. E, então, eu simplesmente transferia o meu afeto para outro. E para o outro, e outro, e mais outro. Tudo muito rápido e sem maiores sofrimentos. A maioria desses meninos nem sequer sabia da minha existência, mas a graça era exatamente essa: ter esperança de que um deles também me amasse em segredo e que algum dia iria se declarar. E então nós viveríamos felizes para sempre…

Já o caso da tal obcecada pelo amigo não pode ser enquadrado simplesmente como amor platônico. Se fosse apenas isso, a paixão se desintegraria no primeiro sinal de desinteresse dele ou na constatação de algum defeito. Mas a menina já teve tempo suficiente para reparar em todas as imperfeições que ele tem. E ele já provou que não tem como estar menos interessado. Portanto, o caso dela parece obsessão mesmo! Daí vem a minha curiosidade para descobrir o que leva uma pessoa a ser tão insistente.

Cheguei a três opções:
1. O desafio. Já que meu amigo disse que não está a fim, a garota quer de qualquer forma provar para o mundo e para ela mesma que pode fazer com que ele mude de opinião. E por isso continua a mandar presentes, a ir a todos os lugares onde ele possa estar, a fingir uma doença qualquer para chamar a atenção, a inventar festas só para poder convidá-lo… Mas o que ela não sabe é que isso apenas faz com que ele se afaste cada vez mais. Ela já deu tanta bandeira que, atualmente, tudo o que faz é interpretado por ele como uma tentativa de conquista. Com isso, até os momentos em que ela está perto simplesmente por coincidência são vistos como “estratégia de aproximação”. E isso só faz com que ele corra cada vez mais para longe.

2. A garota é meio masoquista. Tem gente que simplesmente não consegue lidar com a felicidade, acaba procurando problemas e motivos para estar sempre com uma ruga na testa. Essa menina pode ser assim e ter escolhido meu amigo para ser a tal ruga. Cismou que vai sofrer por ele pelo resto da vida e segue cumprindo essa promessa, sem se dar o direito de ser feliz plenamente, por ter sempre aquela desilusão remoendo por dentro.

3. Autoestima baixa. Somente alguém que não se ama consegue aceitar e deixar que outra pessoa determine seu estado de espírito, seus passos e suas ações. E por não se amar, ela só fica feliz quando ele permite que isso aconteça, nas poucas ocasiões em que dá o mínimo de atenção a ela.
Seja qual for a alternativa certa, realmente é triste saber que alguém aceita e gosta de manter o sofrimento. Espero que algum dia ela acorde e, em vez de seguir o rastro dele, faça seu próprio caminho, onde com certeza ela encontraria motivos para sorrir, sem depender para isso do sorriso de outra pessoa.

Paula Pimenta, no O Tempo

3 comentários

  1. Vim conhecer seu cantinho e gostei muito. Quando puder venha conhecer os meus também.

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