
São tempos difíceis para Jackson e sua família. O dinheiro para o aluguel acabou. E talvez não sobre nada para as compras do mês. Mais uma vez, seus pais, sua irmã e sua cachorrinha terão de deixar o prédio onde moram para viver em uma minivan.
Mas, pior do que a falta de dinheiro e as incertezas com relação ao futuro, é a mania dos pais de Jackson de tentarem encobrir os problemas. O garoto é jovem demais para entender a situação, é o que eles pensam. Na verdade, é o que todos pensam.
Todos, exceto Crenshaw.
Crenshaw é um gato… um gato gigante e imaginário. E é ele quem vai ajudar Jackson a encarar de frente a dura realidade. No início, o menino tenta rejeitá-lo como um mero produto de sua imaginação, afinal, quem aos dez anos ainda é capaz de ter amigos imaginários? Mas a sinceridade e a sabedoria do gato começam a ecoar em sua vida.
Ninguém precisa carregar o peso do mundo sobre os ombros, Jackson menos ainda. E o sarcástico Crenshaw é o companheiro que ele realmente precisa. Alguém imaginário o suficiente para lhe dizer algumas verdades.
Com uma narrativa elegante e comovente, Katherine Applegate trata com delicadeza de temas difíceis, como a pobreza e a fome.
Crenshaw
A fome da imaginação
Ano: 2016
Páginas: 224
Idioma: português
Pensem em um livro fofo. Fofo mesmo! Muito fofo! Fofíneo! Mas também cheio de mensagens nas entrelinhas. Esse é Crenshaw.
Sabe quando você começa a ler um infanto juvenil achando que vai ser pra dar risada e se divertir e leva uma puxada de tapete? Isso é o que a Katherine Applegate faz com você ao longo dessa história.
Se você já leu o Pequeno Príncipe em várias épocas da sua vida e se deparou com mensagens diferentes em cada uma delas, te garanto que esse livro fará o mesmo com você.
“Às vezes eu só queria ser tratado como um adulto. Queria ouvir a verdade, mesmo que não fosse uma verdade feliz. Eu entendia as coisas. Sabia bem mais do que eles pensavam.”
A história é contada por Jackson, garotinho que está vivendo um dilema ou uma aventura, dependendo do seu ponto de vista: ele, sua irmã, sua cachorra Aretha e seus pais talvez tenham que deixar a casa em que moram para morar em uma minivan, pois a situação financeira da família não está nada boa...
“A fome pode fazer a gente se sentir bem estranho. Até meio maluco.Comi minha primeira jujuba devagar e com cuidado. Se a gente dá mordidas pequenas, a comida dura mais.”
Como se não bastassem as suas preocupações, Jackson começa a ver novamente o seu amigo imaginário, um gato gigante e desajeitado chamado Crenshaw, que tem o objetivo de ajudar Jackson a ir pelo caminho certo, não fazer besteiras e inquieta-lo nas horas cruciais.
“A gente tinha parado numa mercearia porque Robin tinha que ir ao banheiro. Ela queria alguma coisa pra comer, mas minha mãe disse pra esperar até mais tarde...Então eu vi a papinha de bebê. Enfiei dois potes de sabor frango arroz nos bolsos. E foi rápido e fácil...Mas a verdade era esta: eu me sentia mal por ter roubado. Mas me sentia ainda pior por causa da mentira.Se você gosta de fatos como eu, tente mentir uma hora dessas, Vai ficar surpreso com como é difícil.”
Mas Jackson não fica muito feliz com o retorno de Crenshaw... Ele se acha grande o suficiente para tirar de letra todos os acontecimentos terríveis por que está passando.
“O negócio é o seguinte: eu não sou o tipo de cara que tem amigos imaginários.Sério. Neste semestre começo o quinto ano. Na minha idade, não é bom ter fama de louco.Eu gosto de fatos. Sempre gostei. Coisas verdadeiras. Fatos como dois-mais-dois-igual-a-quatro. Fatos como espinafre-tem-gosto-de-meias-de-ginástica-sujas.”
Apaixonado por fatos, ele acredita que para tudo existe uma explicação e a presença de um amigo imaginário não é lógica nesse momento. Principalmente por que Crenshaw esteve ausente da sua vida por muitos anos, Jackson cresceu e já sabe que amigos imaginários são apenas isso: frutos da nossa imaginação. Então por que ele voltou???
“Amigos imaginários são como livros – Somos criados, somos desfrutados, somo dobrados e amassados, e então somos guardados até que precisem de nós mais uma vez.“
A presença de Crenshaw é o faz Jackson viver esse momento de incertezas. Engraçado, genioso, temperamental, e muito esperto. Ele será a proteção de Jackson nos momentos mais difíceis... a vida na minivan, as apresentações nos sinais em busca de dinheiro, o novo apartamento e a amizade com Marisol.
“ Eu não sabia como contar para Marisol por que estávamos indo embora...Eu decidi inventar uma história sobre um parente doente e que a gente tinha que cuidar dele, e que tudo aconteceu bem de repente. Mas assim que comecei a falar, Crenshaw se inclinou e sussurrou na minha orelha:- A verdade, Jackson...E então contei tudo para ela. Contei sobre como eu estava preocupado e como a gente passava fome às vezes e como eu estava com medo do que ia acontecer.”
Numa escrita leve e de fácil compreensão, a autora trata de assuntos tão delicados para uma criança de maneira leve e poética, nos mostrando que todos precisam de imaginação, desse lugar fantástico onde tudo é possível. Nem que seja como um refúgio para aliviar as nossas dores...