Um tema amargo, mas necessário. Em Meu coração e outros buracos negros, a estreante Jasmine Warga apresenta aos leitores um romance adolescente que aborda, de forma aberta, honesta e emocionante, o suicídio. Aysel, a protagonista, enfrenta problemas com a família e os colegas de escola, como tantos jovens por aí, e, aos 16 anos, planeja acabar com a própria vida. Mas quando ela conhece Roman num site de suicídio, em busca de um cúmplice que a ajude a planejar a própria morte, num pacto desesperado, a vida dos dois literalmente vira de cabeça para baixo. Aos poucos, Aysel percebe que seu coração ainda é capaz de bater alegremente. E ela precisará lutar por sua vida, pela vida de Roman e pelo amor que os une, antes que seja tarde.
Meu Coração e Outros Buracos Negros
Ano: 2016
Páginas: 312
Idioma: português
Editora: Rocco Jovens Leitores
“Aposto que, se cortassem minha barriga, a grande lesma preta da depressão sairia rastejando. Orientadores pedagógicos amam dizer: "Pensamento positivo!", mas é impossível quando se tem essa coisa lá dentro, sufocando cada centímetro de felicidade que se pode juntar. Meu corpo é uma máquina eficiente de matar pensamentos felizes.”
Ayzel, nossa protagonista, é uma adolescente bem comum, ela accredita que a vida das pessoas ao seu redor, principalmente da sua família, será bem melhor se ela morrer. Iso mesmo, Ayzel quer morrer e fazer com que essa dor, esse grande buraco negro que é o seu coração pare de crescer.
Seus motivos? Seu pai cometeu um crime bárbaro no passado e ela tem medo de ter herdado ese lado cruel e acabe da mesma forma que ele.
Apesar de saber o que quer, Ayzel percebeu que não conseguirá fazer isso sozinha. Então entra em um site que tenta unir suicidas em potencial para que façam isso juntos.
“O problema do suicídio, que a maioria das pessoas não percebe, é ser algo realmente difícil de concretizar. Eu sei, eu sei. As pessoas sempre ficam de mimimi dizendo que ‘o suicídio é uma saída covarde’. E acho que é mesmo… quer dizer, estou desistindo, me rendendo. Fugindo do buraco negro que é meu futuro, me impedindo de crescer e virar a pessoa que tenho pavor de me tornar. Mas o fato de ser uma saída covarde não garante que vá ser fácil.”
Ayzel conhece Robôcongelado, ou Roman, também com 17 anos e quase seu vizinho. Roman se sente culpado pela morte da irmã e acha difícil continuar vivendo com essa dor, mas não se sente capaz de fazer isso sozinho além de precisar de alguém em quem sua mãe confie para deixá-lo sair de casa sem a supervisão dela.
"O que as pessoas nunca entendem é que a depressão não tem nada a ver com o exterior; tem a ver com o interior. Algo por dentro está errado. Claro, há coisas na minha vida que fazem com que eu me sinta sozinha, mas nada me faz sentir mais isolada e aterrorizada do que a voz na minha cabeça. A voz que lembra que há uma grande probabilidade de que eu acabe exatamente como meu pai."
Roman marca a data e eles passam a se encontrar para planejar como tudo deverá acontecer.
À medida em que se encontram para definer os detalhes do plano, os dois vão se tornando amigos. Apenas um entende o outro, suas vidas e seus sentimentos. A cumplicidade aumenta enquanto o dia marcado se aproxima.
“Será que é assim que a escuridão vence, convencendo-nos a prendê-la dentro de nós, em vez de jogá-la fora? Não quero que ela vença.”
Até que pequenas faíscas de felicidade começam a surgir pelo buraco negro do coração de Ayzel… Ela começa a notar o quanto gosta de estar ao lado de Roman e como isso lhe faz bem…E a vontade de morrer já não é tão forte… Parece que uma nova tela, mostrando um mundo diferente do que ela conhecia, se apresenta e Ayzel começa a gostar do que vê. Ela percebe que existem milhões de experiências e sentimentos que ainda precise viver. Assim, ela ganha forças para lutar contra alesma preta que vive dentro dela e a deixa triste. Mas, o maior desafio será mostrar a Roman que vale à pena lutar e se permitir ser feliz, apesar de qualquer dor.
"Tudo sempre pareceu tão definitivo, inevitável, predestinado. Mas começo a acreditar que minha vida pode ter mais surpresas do que jamais percebi. Talvez seja tudo relativo, não apenas a luz e o tempo, como Einstein teorizou, mas tudo. Como a vida pode ser terrível e incorrigível até o universo mudar um pouco e o ponto de observação ser alterado e, de repente, tudo parece mais suportável."
Adorei a escrita da Jasmine Warga e a forma como ela fala sobre a depressão, sem clichés e sem preconceito. Só quem já sentiu ou esteve ao lado de alguém que tem depressão é capaz de entender realmente a força que ela tem sobre o ser humano. E ele foi extramente feliz nas descrições de como os personagens se sentem.
Se prepare para ler uma história fantástica mas com uma carga de sentimentos imensurável. Meu coração e outros buracos negros é um livro que deve ser lidos por todos, depressivos ou não, felizes ou não, seres humanos.
[…] E, desta vez, sinto minha mão. Sinto tudo. E quero continuar sentindo. Mesmo as coisas dolorosas, horrendas, terríveis. Porque sentir as coisas é o que nos faz saber que estamos vivos.
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