Resenha da Drica: De Bagdá, com muito amor, Jay Kopelman e Melinda Roth - Best Seller


Título: De Bagdá, com muito amor

Título Original: From Baghdad, With Love

ISBN: 9788576840008

Páginas: 218

Edição: 19

Editora: Best Seller



De Bagdá, com muito amor

Em De Bagdá, com muito amor, o tenente-coronel Jay Kopelman e a jornalista Melinda Roth contam, através de uma narrativa emocionante que descreve com realismo as insanas condições da guerra no Iraque, a história real da missão de Kopelman para resgatar um cãozinho do país conflagrado. Um grupo de fuzileiros entra em uma casa abandonada em Faluja, no Iraque. Ao ouvir um ruído suspeito, os soldados destravam as armas, aproximam-se com cautela e se preparam para abrir fogo. Mas o que encontram durante aquele ataque à cidade mais perigosa da Terra? Não é um rebelde vingativo, e sim um cachorrinho que ficou para trás depois que a maior parte da população fugiu para escapar do bombardeio. Apesar dos regulamentos militares que proíbem animais de estimação, os fuzileiros tiram as pulgas do filhote com querosene, eliminam os vermes com fumo de mascar e o alimentam com rações militares. Assim começa a dramática tentativa de resgate de um cão chamado Lava e a história de como o animal salva pelo menos um fuzileiro, o tenente-coronel Jay Kopelman, da devastação emocional causada pela guerra. De Bagdá, com muito amor fala de soldados durões, de correspondentes de guerra e de iraquianos em perigo, contando uma história inesquecível e verdadeira de um bando de improváveis heróis que aprendem com um animalzinho refugiado, sarnento e pulguento, lições inesperadas sobre a vida, a morte, a guerra e, acima de tudo, o amor. Não se trata apenas de um relato comovente sobre o destino de um cachorro, mas da condição humana numa guerra como a do Iraque. De Bagdá, com muito amor tem também o mérito de aproximar as pessoas de um entendimento maior sobre o choque cultural e, principalmente psicológico, que a convivência num ambiente de conflito pode causar ao ser humano. A história foi coberta pela mídia americana, envolveu o Senado, assim como outros órgãos americanos e, entre outras coisas, favoreceu o aumento do número de adoções de animais no ano de 2006 nos EUA.

De Bagdá, com muito amor certamente conquistará o coração de todos, apaixonados ou não por animais.

Leio um trecho do livro:

De Bagdá, com muito amor
Um soldado e um cachorro na guerra do Iraque
Primeira semana da invasão de Faluja, Iraque, pelos Estados Unidos




EM UMA CASA ABANDONADA na parte nordeste de Faluja, soldados do Primeiro Batalhão do Terceiro Regimento de Fuzileiros Na-vais — conhecidos como “Cães da Lava” — param e ficam imóveis ao ouvir uma série de estalidos que vêm de um quarto onde ainda não entraram.

Pinos de granada?

A maioria das mortes de militares em Faluja durante a primeira semana da invasão norte-americana aconteceu dentro de casas como essa — os rebeldes se escondem nos pavimentos superiores e atiram granadas contra os fuzileiros que sobem. Há muitos feridos, atingidos na cabeça e no rosto, e mesmo que os Cães da Lava se considerem um dos grupos de fuzileiros mais durões — o nome foi escolhido por eles mesmos, devido às pon-tudas pedras vulcânicas do campo de treinamento no Havaí —, o fato de pertencer àquele batalhão não oferece um escudo contra os caprichosos efeitos de uma granada. O importante é ter cuidado. Ficar alerta. Ter a arma carregada e travada ao dobrar qualquer esquina. Todo cuidado é pouco.

Tec, tec. Tec, tec. Tec, tec... Tec, tec.

Se uma granada explode em seu rosto, pelo menos você parte da Terra na coordenada mais próxima do céu, segundo o GPS. O Iraque é considerado pela maioria dos arqueólogos bíblicos o local onde ficava o Jardim do Éden — a única re-produção fiel do céu feita por Deus, o paraíso sobre a Terra. Mas não é preciso preparar desculpas ao chegar lá, porque ali, na-quela zona de conflito, é muito difícil perceber a diferença entre o bem e o mal. Tanto faz que você creia em Abraão, Maomé ou Jesus; foi ali que tudo começou e foi ali que tudo desandou.

• • •

Tec, tec. Tec, tec. Tec, tec. Tec, tec.

Talvez uma bomba-relógio.

Se essa terra foi o paraíso, os fuzileiros não têm intenção alguma de acabar no inferno. Do lado de fora do prédio que estão revistando, helicópteros armados patrulham do céu, em busca de rebeldes escondidos, enquanto viaturas blindadas per-correm o que resta das ruas. Qualquer veículo na cidade é um alvo, por causa do risco de bombas. Todo fio solto é suspeito. Todos os prédios são revistados, e as palavras Jihad, Jihad, Jihad estão pintadas em todas as paredes.

Durante os primeiros dias da invasão de Faluja, os fuzi-leiros encontraram depósitos de armas, coletes para homens-bomba e grande quantidade de heroína e anfetamina, aparente-mente usadas para estimular a coragem dos suicidas. Encontra-ram cadáveres de combatentes naturais da Chechênia, da Síria, da Líbia, da Jordânia, do Afeganistão e da Arábia Saudita. En-traram em matadouros humanos, com ganchos pendurados no teto, máscaras negras, facas, esteiras ensangüentadas e vídeos que mostram decapitações. Libertaram prisioneiros acorrenta-dos, enlouquecidos de medo.

Faluja, próximo ao centro de onde tudo começou, é agora uma cidade isolada do resto do mundo, habitada somente por franco-atiradores e cães vadios que devoram os mortos.

Tec, tec. Snif, snif. Tec, tec.

Os Cães da Lava cerram os dentes e apertam as armas, recordando as instruções: cobrir áreas perigosas, abaixar-se, mover-se furtivamente, estar preparado para improvisar e eli-minar as ameaças.

Snif. Snif. Tec. Tec. Tec. Snif. Snif.

Um rebelde amarrando uma bomba ao próprio corpo?

Eles deviam primeiro ter limpado aquele quarto com uma granada — simplesmente jogá-la e deixá-la fazer o trabalho sujo. Mas, em vez disso, pelos motivos ainda obscuros da guerra, do medo e do destino das coisas, encostam-se nas paredes dos dois lados da porta e preparam as armas para atirar.

Em seguida, enfiam os canos dos fuzis pela abertura, as-sumem posição de combate e apontam na direção dos ruídos, enquanto o alvo corre para o outro lado do quarto.

— Mas que merda...!
O cachorrinho se volta ao ouvir as vozes e os encara.
— Que diabo...?
Vira a cabeça, procurando compreender a intenção, e não
tanto as palavras.
— Deve ser brincadeira.
O cãozinho solta um latido fino e saltita, contente, com as unhas fazendo tec, tec no chão, porque parece que, finalmente, alguém o encontrou.

 ***


Sei muito bem de onde ele veio e também para onde vai. Já vi isso antes: fuzileiros baixando a guarda e fazendo amizade com nativos — moças bonitas, crianças, bichinhos peludos, sei lá o quê. Não é permitido. Segurando o rapazinho durão que parece ter acabado de sair de uma caixa debaixo da árvore de Natal, trato de raciocinar com frieza.

Não é permitido, Kopelman.

Mas ele continua a lamber, remexer-se e retorcer-se para todos os lados, e eu me lembro bem dessa parte porque gostei de senti-lo em minhas mãos, de ver que ele me perdoava por tê-lo assustado, gostei de não me importar se voltaria vivo para casa ou se me sentiria um ser humano depravado — bastava que ele se remexesse em minhas mãos, removendo de meu ros-to toda a sujeira.

***


Outra manhã, acordo achando que alguém encurtou meu saco de dormir, porque não consegui esticar totalmente as pernas. É Lava, que deu um jeito de entrar no saco e enroscar-se no fundo, feito uma bola.

“Cara, isso tem de acabar.”

Ele está roncando, e eu não quero perturbá-lo; ainda é muito cedo para levantar, e por isso fico ali sentindo o calor da respiração dele em meus pés. E, ao mesmo tempo, o Regulamento Geral 1-A começa a rodar em minha cabeça.

Ficam proibidas para os membros das forças armadas as ativida-des mencionadas no Regulamento Geral 1-A, inclusive adotar animais de estimação ou mascotes e cuidar ou alimentar quaisquer tipos de animais domésticos ou selvagens. Embora a maioria dos fuzileiros que dormem a meu redor admita que se sente bem fazendo final-mente o que foram treinados para fazer, a verdade é que eles não estão à vontade com essa sensação de bem-estar. Todos os regulamentos e o treinamento são valiosos aqui, mas o que vamos fazer depois?

***


Eu devia ter deixado Lava em Faluja, quando saí de lá. Claro, teria sido difícil, mas a culpa só nos atormenta quando presta-mos atenção a ela, como um carrapato grudado no pescoço. Assim eu não teria passado todas aquelas noites preocupado em saber quem estava cuidando de Lava, o que aconteceria se as pessoas erradas o descobrissem e como o matariam se o en-contrassem. Não teria de passar tempo brincando com ele, ali-mentando-o e tratando de encontrar um jeito de vaciná-lo e de arranjar comida com os treinadores militares.

Mas tudo o que fiz por ele fiz por mim mesmo, porque me ajudou a esquecer todas as misérias daquele lugar, e passava os dias e as noites esperando por uma notícia, qualquer uma, mesmo a pior.

Um comentário

  1. Amei a capa do livro, muito fofa, me fez ter curiosidade para conferir a resenha e parece que fiz bem, pois adorei o enredo.
    Sempre que leio livros que se passam em algum período de guerra, é sobre pessoas vítimas dos bombardeiros, ou que moram em um local de risco, mas nunca tinha lido uma estória que tratasse da vida dos soldados. Fiquei curiosa para acompanhar o desenrolar desta estória e saber como o cãozinho ajudou-os neste momento de caos.
    Adorei o trecho do livro, me deixou um gostinho de quero mais.
    Como sou apaixonada por livros com animais, vou incluir este na minha infinita lista de livros, mas como prioridade!
    beijos

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