Tão eu, Tão você, Fabrício Carpinejar


Nestas crônicas da Coleção Pedaços de Vida Fabrício Carpinejar apresenta memórias de vida com os filhos. Trata-se de uma biografia do olhar paterno, em que o autor reconstrói as relações amorosas e busca achar o equilíbrio entre o eu e o outro. Neste volume 4 da coleção, as crônicas são cartas do pai, que busca refazer o contato fragilizado com a filha mais velha, e mensagens da filha em cartas, e-mails, letras de música. Temos duas vozes e dois olhares sobre a relação pai-filha e suas possibilidades de espelhamentos.
Tão eu, Tão você
Coleção Pedaços de Vida
Fabrício Carpinejar
Ano: 2015 
Páginas: 80
Idioma: português
Editora: Edelbra

Que palavras se escondem ou se mostram para um pai dizer a uma filha o que lhe rasga o peito? Esta seria a pergunta que conseguiria descrever o livro Tão eu, tão você, último volume da coleção Pedaços de Vida, de Fabrício Carpinejar. Apesar do autor ser o pai, poderíamos dizer que é um livro escrito a quatro mãos, pois alternam-se aos pares, as narrativas de pai e filha. Mariana, filha mais velha do autor, mostra a força de sua letra, em fragmentos de textos, poemas, letras de músicas e cartas, onde divide com o pai sentimentos, avanços e recuos, no processo de reaproximação/reconciliação vivido pelos dois. 

Fabrício e Mariana são os personagens desta história que se desenha única, mas ao mesmo tempo vária, que se projeta nas semelhanças e diferenças mostradas e sentidas por um e por outro. É ao mesmo tempo uma história universal, história da parentalidade, da paternidade, daquilo que é tão nosso e ao mesmo tempo rejeitamos tanto. Desse jogo complexo de espelhos, onde nos vemos nós, tão diferentes e tão semelhantes aos nossos genitores.

“Todo pai é personagem de seu filho. Eu sou seu personagem. Quem está me escrevendo é você, não sou eu.” 

Sim, todo pai é diferente porque é pai, passa a ser um outro que é super herói, bandido, vilão, amor, espelho. Toda a caminhada da paternidade é feita de erros e acertos e nesse fluxo a necessidade de reconhecer estes erros é fundamental. Não há cartilha para pai, é errando e acertando e errando de novo e tentando não errar mais. 
Carpinejar não só fala dos seus afetos e acertos, mas também enumera seus muitos erros. “Poderia dizer para você tudo o que lhe fiz de bom, que é a mania de nossa família. Triste mania de enumerar grandezas para embalar os tropeços. (...) ataco para me defender. Acuso para não expor as minhas fragilidades”. Ao longo de sua caminhada de pai, escrever este livro foi como um encontro pela via da palavra, desatando nós e revelando sentimentos.                                                                                                                    
Por fim, posso dizer que este livro ecoa como um resgate, retomada de coisas que ficaram perdidas no caminho traçado por pai e filha, resgate de sentires que explodem na vida não só de Fabrício e de Mariana, na vida de tantos pais e filhas que se isolam ou distanciam pelo silêncio. Tão eu, tão você é uma tentativa bela e poética de fazer com que a palavra possa romper os silêncios e tecer pontes. Que a palavra sirva de espelho onde vejamos o que precisamos ver, pois como dizia o poeta: “ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais.” 

Um comentário

  1. Apesar de só ter lido um livro do Carpinejar, acompanho tudo que o autor vai "soltando" pela internet e admiro demais a mente aberta que ele tem e ao mesmo tempo, essa realidade que de certa forma, nos joga na cara.
    Amo, amo e com certeza é um livro que pretendo ler junto com todos!!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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