A Sonata Perfeita, Rose Tremain

Para Gustav Perle, a vida deve ser vivida com reserva, autocontrole e, acima de tudo, neutralidade. “VocĂª precisa ser como a Suíça”, diz sua mĂ£e. “VocĂª deve manter-se forte e corajoso. Assim, viverĂ¡ do jeito certo.”Crescer na Suíça apĂ³s a Segunda Guerra Mundial em um apartamento apertado nĂ£o Ă© fĂ¡cil. E na companhia de sua mĂ£e, que nĂ£o consegue nutrir nenhuma espĂ©cie de afeto especial por ele, Ă© ainda mais complicado. Gustav quer viver a vida que sempre sonhou. A vida de Anton Zweibel, por exemplo, seu mais novo colega de classe, um menino judeu que sonha em ser pianista.
O selo que mais emociona os darksiders apresenta seu mais novo lançamento: A Sonata Perfeita, de Rose Tremain. Com a narrativa emocionante de Em Algum Lugar nas Estrelas, de Clare Vanderpool, e a ternura de Leve-me com VocĂª, de Catherine Ryan Hyde, o livro chega para trazer ainda mais ternura para a marca DarkLove — e lembrar que o amor pode se manifestar das mais diversas formas e salvar vidas.
A Sonata Perfeita Ă© um livro poderoso e tocante que acompanha a histĂ³ria de Gustav e Anton ao longo de suas vidas, explorando seus relacionamentos familiares, seus dilemas internos e as transformações na amizade conforme os anos passam. E Ă© com uma sensibilidade Ă­mpar que Rose Tremain narra as doloridas repercussões da guerra dentro das paredes de neutralidade da Suíça e resgata as origens do antissemitismo da mĂ£e de Gustav.
Quieto e melancĂ³lico, terno e frĂ¡gil, com uma estrutura similar a de uma sonata e o impacto de uma bela melodia. A Sonata Perfeita Ă© um romance sobre como o passado afeta diretamente o presente — mas, principalmente, sobre como precisamos aprender a seguir em frente, nĂ£o importa o que aconteça.
A Sonata Perfeita
Ano: 2020 
PĂ¡ginas: 272
Idioma: portuguĂªs
Editora: DarkSide Books

Rose Tremain nos leva Ă  Suíça, inicialmente no perĂ­odo pĂ³s Segunda Guerra Mundial pelos olhos de Gustav, garotinho Ă³rfĂ£o de pai, que vive com a mĂ£e uma vida de privações e seu Ăºnico brinquedo: um trenzinho de ferro atravĂ©s do qual ele mantĂ©m amizade com os seus passageiros imaginĂ¡rios. A Ăºnica coisa que ele sabe sobre o falecido pai Ă© que, segundo a mĂ£e, ele foi um herĂ³i.

“Ele foi um herĂ³i, Emilie lhe lembrava todo ano. Eu nĂ£o entendi no começo, mas ele foi um bom homem em um mundo horrĂ­vel.”

Gustav Ă© um garoto solitĂ¡rio, se sente esquecido pela mĂ£e que mal olha para ele e sequer tem um gesto de carinho, nĂ£o tinha amigos na escola atĂ© o dia em que ajuda Anton, aluno novo, a enfrentar os seus medos. Filho de um banqueiro judeu que sobreviveu aos horrores da guerra, Anton e Gustav vĂ£o protagonizar, por toda a vida, a amizade mais improvĂ¡vel do ponto de vista de um adulto.

Dividido em trĂªs partes, o livro dĂ¡ saltos atravĂ©s da histĂ³ria. A primeira parte Ă© quase uma apresentaĂ§Ă£o dos personagens, suas histĂ³rias e entrelaçamentos. O meio conta o passado e nos dĂ¡ vĂ¡rias respostas para o que aconteceu na primeira parte. E a Ăºltima parte traz o desfecho da vidas dos nossos protagonistas. 

Na segunda parte da histĂ³ria conhecemos o ato de heroĂ­smo do pai de Gustav condenado pela famosa neutralidade suíça. Por outro lado, ele tambĂ©m serĂ¡ responsĂ¡vel pela eterna amargura de Emilie e sua falta de amor em relaĂ§Ă£o a Gustav. 

Na terceira e Ăºltima parte vamos encontrar Gustav e Anton jĂ¡ jovens senhores, lidando com o que os moldou no passado, tendo que lidar com as consequĂªncias de suas escolhas e vivendo suas realizações. 

Acompanhar esses dois personagens dos 6 aos 60 anos nos faz vivenciar uma ambiguidade de sentimentos entre duas pessoas tĂ£o diferentes: de um lado Gustav, acostumado a solidĂ£o e a escassez de afeto, ensinado a nĂ£o demonstrar sentimentos e ser sempre neutro. Do outro lado, Anton, intenso, febril, sempre teve amor, mas Ă© ressentido, apesar de se entregar a qualquer emoĂ§Ă£o.  

A histĂ³ria flui e prende o leitor desde o começo mesmo trazendo temas tĂ£o pesados quando os horrores da guerra, a fome, a solidĂ£o, a descrença em um futuro melhor e a falta de esperança. Te faz rir, faz chorar, alegra e entristece na mesma medida. E termina com uma pergunta principal: o que leva alguĂ©m a escolher o caminho da neutralidade, seja ela no amor, na amizade ou em qualquer Ă¡rea da vida?



Um comentĂ¡rio

  1. Namorando muito esse livro! SĂ³ de trazer um pouco dos horrores da Segunda Guerra e essa coisa linda de dois personagens tĂ£o diferentes e ao mesmo tempo, tĂ£o iguais, Ă© algo lindo de ser lido.
    Mesmo na dor,o enredo parece algo tĂ£o poĂ©tico!!!
    Beijo

    Angela Cunha Gabriel/Rubro Rosa/O Vazio na flor

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