Um Lugar Bem Longe Daqui, Delia Owens


Por anos, boatos sobre Kya Clark, a “Menina do Brejo”, assombraram Barkley Cove, uma calma cidade costeira da Carolina do Norte. Ela, no entanto, nĂ£o Ă© o que todos dizem. Sensata e inteligente, Kya sobreviveu por anos sozinha no pĂ¢ntano que chama de lar, tendo as gaivotas como amigas e a areia como professora. Abandonada pela mĂ£e, que nĂ£o conseguiu suportar o marido abusivo e alcoĂ³latra, e depois pelos irmĂ£os, a menina viveu algum tempo na companhia negligente e por vezes brutal do pai, que acabou tambĂ©m por deixĂ¡-la.
Anos depois, quando dois jovens da cidade ficam intrigados com sua beleza selvagem, Kya se permite experimentar uma nova vida — atĂ© que o impensĂ¡vel acontece e um deles Ă© encontrado morto.

Ao mesmo tempo uma ode Ă  natureza, um emocionante romance de formaĂ§Ă£o e uma surpreendente histĂ³ria de mistĂ©rio, Um Lugar Bem Longe Daqui relembra que somos moldados pela criança que fomos um dia e que estamos todos sujeitos Ă  beleza e Ă  violĂªncia dos segredos que a natureza guarda.

A obra foi incluĂ­da no clube de livros de Reese Witherspoon, que posteriormente adquiriu os direitos de adaptaĂ§Ă£o cinematogrĂ¡fica e vai produzir o filme com a Fox 2000.

Um Lugar Bem Longe Daqui
Ano: 2019 
PĂ¡ginas: 336
Idioma: portuguĂªs
Editora: IntrĂ­nseca

Fui avisada pelo Minho de que essa era uma leitura difĂ­cil mas nĂ£o fazia ideia da grandiosidade da narrativa que tinha pela frente!

Um lugar bem longe daqui conta a histĂ³ria de Kya em dois momentos: a sua infĂ¢ncia, contada como flashes do passado e sua vida adulta, no momento atual. O pai alcoĂ³latra e violento Ă© o motivo para os irmĂ£os e a mĂ£e irem embora, deixando Kya, uma criança de 7 anos, morando em um trailer no meio do brejo e por sua conta e risco. 

E aqui eu quero ressaltar o talento da autora ao narrar as cenas em que Kya aprende a cozinhar sozinha ou vai Ă  cidade para comprar comida, ou mesmo quando ela divide sua comida com os pĂ¡ssaros do brejo. A carga de solidĂ£o e abandono que essas cenas tem Ă© de uma proporĂ§Ă£o surreal. Mas elas nĂ£o trazem sĂ³ tristeza e compaixĂ£o, trazem uma reflexĂ£o, nĂ£o em relaĂ§Ă£o a Kya, mas em relaĂ§Ă£o a todos os adultos que a condenaram Ă  essa situaĂ§Ă£o. 

"Por favor, nĂ£o me venha falar de isolamento. NinguĂ©m precisa me dizer como isso muda uma pessoa. Eu vivi isso. Eu sou o prĂ³prio isolamento – sussurrou Kya com um quĂª de raiva na voz. – Eu perdoo Ma por ter ido embora. Mas nĂ£o entendo por que ela nĂ£o voltou… por que me deixou."

NĂ£o bastasse o abandono da famĂ­lia, Kya tambĂ©m foi negligenciada pela comunidade onde vivia. Afinal, todos sabiam de sua situaĂ§Ă£o e ninguĂ©m se importava de verdade. AlĂ©m de ser tratada como uma aberraĂ§Ă£o do brejo, uma criatura exĂ³tica num nĂ­vel abaixo do humano. 

Ainda assim Ă© incrĂ­vel ver a maturidade, independĂªncia e conhecimento adquiridos por Kya ao longo de sua trajetĂ³ria. Seu desenvolvimento nos mostra como cada realidade tem a sua riqueza de experiĂªncias. 

Paralelo a isso, temos a investigaĂ§Ă£o da morte de Chase, garoto branco, filho de uma famĂ­lia tradicional e ex-namorado de Kya, que era a Ăºnica suspeita do crime. E aqui a autora dĂ¡ outro show falando sobre o preconceito contra a mulher e a vilanizaĂ§Ă£o da vĂ­tima de estupro. 

Vale ressaltar que a histĂ³ria se passa entre as dĂ©cadas de 1950 e 1960 nos EUA, e a autora nĂ£o deixa de pontuar algumas regras sociais da Ă©poca como a proibiĂ§Ă£o de mulheres frequentarem determinados locais e o preconceito contra os negros.

Uma histĂ³ria que te leva a reflexĂ£o durante toda a sua narrativa. que te inquieta e te tira da sua zona de conforto fazendo vocĂª questionar vĂ¡rios conceitos prĂ©vios que vocĂª possa ter, mas que consegue mostrar que existe beleza e amor nos lugares mais inesperados, basta aproveitar a solidĂ£o para apreciar.



Nenhum comentĂ¡rio

O seu comentĂ¡rio alegra o nosso dia!!!