Narrativa labiríntica escrita em primeira
pessoa, Arco de virar réu descreve os
eventos que marcam a deterioração física e mental do narrador-protagonista.
Historiador social com forte inclinação para o estudo antropológico, ele é
obcecado pelos rituais e pelos costumes dos índios tupinambás. A história
começa com o surgimento dos primeiros sintomas de esquizofrenia em seu irmão,
nos anos 1970, segue pela adolescência, quando, inspirado em rituais indígenas,
o narrador passa a se dedicar à ocultação de cadáveres, e termina com a
dolorosa percepção da própria loucura. Digressões delirantes misturam-se a
fragmentos de memória e a pesadelos que, aos poucos, colocam em dúvida a
própria existência.
Arco de virar réu é o primeiro romance de Antonio Cestaro, que já tem publicados dois
livros de crônicas: Uma porta para um
quarto escuro e As artimanhas de
Napoleão e outras batalhas cotidianas. O narrador-protagonista é um homem de meia-idade, primogênito de pais
separados.
Ele inicia seu relato dissertando sobre a natureza
física e psicológica do tempo. Fragmentos de memória surgem e começam a se
reunir, de início caoticamente. Sua família vai se delineando: o pai ausente, a
mãe fragilizada, a irmã mais nova e o irmão esquizofrênico, cujo nome é Pedro. Juntam-se
a esse grupo o primo Juca Bala e a tia Rosana. No verão de 1973, durante as
férias na praia, Pedro ganha da tia um “jogo de estratégias bélicas” que passa
a desempenhar um papel importante na trama. A partir desse momento, digressões
delirantes, surrealistas, pontuam a narrativa.
Neste ponto ainda existe uma divisão clara entre o
narrador e seu irmão. Ambos ainda vivem em mundos opostos: sanidade−loucura.
Uma mudança na política de saúde mental do Ministério da Saúde obriga a família
a tirar Pedro do sanatório. Ele é levado para morar com a mãe no sítio da tia
Rosana. O narrador tem pesadelos. São viagens oníricas que o levam à floresta e
aos rituais dos canibais tupinambás, às vezes à Índia. Também continuam as
falas bélicas do irmão. Os conflitos armados de Pedro começam a se misturar com
os maus espíritos da mitologia indígena.
Pedro morre, mas sua tragédia mental não. O mundo
avança para o caos sensorial. Tudo em que o narrador acredita, incluindo sua
própria existência, começa a se desmanchar no ar. A veracidade de fatos e
pessoas é posta em xeque.
Oi!
ResponderExcluirAinda não conhecia esse livro do Antonio Cestaro, mas pela resenha pareceu ser bem interessante principalmente esses vários períodos da sua vida !!