Lendo com a Dani: Na Escuridão da Floresta, Eliza Wass

Castella Cresswell e seus cinco irmãos sabem o que é ser diferente. O mundo deles se resume à casa decrépita da família na escuridão da floresta. Os irmãos obedecem estritamente às leis de Deus, cujas mensagens são transmitidas através de seu pai. Uma delas diz que eles são as únicas pessoas puras na terra e deverão se casar uns com os outros em uma cerimônia divina. Na escola, eles ainda são encarados como os esquisitos de sempre, que aparecem com hematomas inexplicados e vivem em completo isolamento. Até Castley ser obrigada a fazer dupla com George Gray, que oferece a ela um vislumbre do que é uma vida com liberdade e opções. O mundo de Castley rapidamente se expande para além da floresta que ela conhece tão bem e das crenças que um dia ela pensou serem as únicas verdades. Há um futuro esperando por ela se conseguir escapar das garras de seu pai, mas a garota se recusa a deixar os irmãos para trás. E, justo quando ela começa a bolar um plano, seu pai faz um anúncio arrepiante: os Cresswell em breve retornarão para seu lar no paraíso. Com o tempo se esgotando, Castley precisa arrumar um jeito de expor toda a extensão da loucura de seu pai. A floresta manteve a verdade no escuro por muito tempo, e agora Castley pode ser a última esperança de salvação para os irmãos Cresswell.
Na Escuridão da Floresta (The Creswell Plot)
Eliza Wass
Verus (2017)
210 páginas

Na Escuridão da Floresta é um livro de abalar sua estrutura.

Até onde a fé é saudável? Como distinguir o que é fé do que é fanatismo? 
As crianças Cresswell foram criadas, boa parte da infância, em casa, por seus pais. Até que um incidente acontece. Mas Gabriel Creswell conta a seus filhos que eles são os únicos que merecem ir para o céu. E, em sua visão, só poderão casar uns com os outros.

"Meu pai nos ensinou que éramos as únicas pessoas puras que restavam na terra, as únicas pessoas dignas e, por causa disso, teríamos de nos casar entre nós."

E as crianças estão certas de que o pai tem razão, mas a realidade se mostra diferente quando são obrigados a frequentar a escola da cidade. 

Ainda assim, será que Castella faz bem em questionar os ensinamentos de seu pai? Seria possível que ela e os irmãos tivessem uma vida comum como os colegas de escola? Poderiam sonhar em serem aceitos?

Castley passa a duvidar do que seu pai diz, mas sente-se uma traidora por permitir tais pensamentos. Mas, aos poucos, ela deixa que algumas situações sejam observadas por outro ângulo e suas conclusões começam a lhe assustar.

Mas ela estaria paranóica e deveria obedecer cegamente seu pai? O que Caspar pensa a respeito?

Seu irmão Caspar, o preferido, o certinho que, embora todos critiquem sua família, saí à noite para fazer boas ações em prol dos vizinhos; mas Caspar será tentado e, com isso, uma pequena fresta se abre em sua fé inabalável nas palavras do pai.

A autora nos pega de jeito, nos deixa sem ar diante do que lemos, e quando Castella narra alguns acontecimentos, para nós, é evidente que tem algo de errado no santo lar da família Creswell.

Enquanto isso, ela mostra a convivência da jovem de dezessete anos na escola, a novidade de fazer dupla com um garoto nas aulas de teatro. É tão interessante acompanhar as experiências de Castley com pessoas fora de sua família, observar como ela pensa, cada questionamento que surge.

"(...)tendo apenas Deus como companhia (se Deus achasse que valia a pena ficar por perto)."

E ainda temos umas reviravoltas de tirar o fôlego, verdades vão surgir, tensão vai fazer parte da narrativa.

Castella é uma garota questionadora, que sonha em viver igual aos outros. Caspar busca ajudar ao próximo e, sempre que necessário, age como o protetor dos irmãos. Delvive, para mim, soou como a mais fútil (se ela pudesse ser assim), com sua preocupação em não deixar uma aula que tanto gosta, mas querer obrigar Castley a largar a que entende bem, para estar na mesma turma que ela. Hannan é o único que tem uma vida além da estudar e estar em casa, pois joga futebol na escola. Mortimer é o rebelde da turma, mas até ele sabe os limites. E Jerusalem, ou Baby J, tem um talento que ao ler vai fazer com que você fique um tanto triste por ela ter suas asas cortadas; além de na minha opinião, ela ter sido a mais afetada.

E passamos a leitura inteira torcendo para que essas crianças tenham um final feliz, que a verdade venha à tona e que eles possam ser normais.

Afinal, no fim das contas, eles merecem ser chamados de esquisitos, por culpa da criação. 

Mas como será que Gabriel Creswell vai reagir diante das mudanças em seus filhos?

Nas escuridão da floresta fala de fanatismo, mas tem um quesito muito forte em relação ao amor fraternal, essas crianças se desentendem, mas nunca dão as costas uma para as outras, mesmo que discordem entre si.

Eu recomendo a leitura, Eliza Wass vai desenrolando a trama com cuidado, instigado nosso avanço e nos deixando arrepiados.

Meu único porém é que gostaria que o final fosse um pouco diferente, pois tem uma espécie de gancho. No entanto, estive pesquisando e a autora disse que não há nada programado para que o livro ganhe uma continuação



2 comentários

  1. Oi Dani!
    Não dei nada pela sinopse, mas lendo a resenha acho que os questionamentos são interessantes. E se alia tensão e reviravoltas...parece promissor.
    Sobre o gancho do desfecho, eu até que gosto de finais em aberto, mas para algumas historias não cabe.
    Beijos
    Alem da Contracapa

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    1. Mariana, o que me atraiu foi a capa, e fiquei bem contente de ter cedido ao desconhecido. pois acabei tendo uma agradável leitura. A Castley é incrível de acompanhar, pelas nuances, os questionamentos.

      O final não é em aberto, ele tá fechadinho, mas tem um acontecimento que para quem gosta de pensar em possibilidades, acaba dando a impressão de que vem mais coisa por aí.

      Obrigada!

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