Menina Boa Menia Má, Ali Land

Os corações das crianças pequenas são órgãos delicados. Um começo cruel neste mundo pode moldá-los de maneiras estranhas Nome novo. Família nova. Eu. Nova. Em folha. A mãe de Annie é uma assassina em série. Um dia, Annie a denuncia para a polícia e ela é presa. Mas longe dos olhos não é longe da cabeça. Os segredos de seu passado não a deixam dormir, mesmo Annie fazendo parte agora de uma nova família e atendendo por um novo nome — Milly. Enquanto um grupo de especialistas prepara Milly para enfrentar a mãe no tribunal, ela precisa confrontar seu passado. E recomeçar. Com certeza, a partir de agora vai poder ser quem quiser... Mas a mãe de Milly é uma assassina em série. E quem sai aos seus não degenera...
Menina Boa Menina Má
Ano: 2018
Páginas: 376
Idioma: português 
Editora: Record

“Choque, foi o nome que deram. Coisa bem pior, eu quis dizer. Uma coisa que entrava no meu quarto toda vez que eu me permitia dormir. Chegava rastejando por debaixo da porta, sibilava para mim, se chamava mamãe. Ainda se chama.Quando não consigo dormir, não conto carneirinhos, conto o número de dias até o julgamento. Eu contra você. Todo mundo contra você.”

Sabe quando você lê um livro que não te deixa parar de pensar nele? Daqueles que você tem a sensação que todo mundo deveria ler? E que quando você termina de ler quer contar para todo mundo o quanto ele é fantástico? Menina Boa Menina Má é esse livro.

Nossa protagonista é Annie, adolescente prestes a fazer 16 anos que já passou por coisas que faria o ser humano menos sensível se arrepiar. Sua mãe, uma enfermeira que trabalhava em um abrigo para mulheres vítimas de violência, a torturava, física e psicologicamente, violentou seu irmão mais velho que preferiu viver em um reformatório a morar com ela e ainda torturou e matou outras 9 crianças. Mas um dia Annie denunciou a sua mãe para a polícia, desde então passou a ser chamada de Milly, é a principal testemunha de acusação da mãe e vive em um lar adotivo temporário.


Seu pai adotivo é o psicólogo especialista em traumas do abrigo em que foi acolhida. Sua nova família ainda é formada pela mãe adotiva, Saskia, que tem seus próprios dilemas e é base para outras tantas teorias que surgem ao longo da história. E por Phoebe, uma irmã que é sua colega de classe. A típica adolescente mimada e fútil, mas que esconde muito mais dores por baixo dessa máscara do que alguém possa imaginar.

“Tinham me dito no abrigo que a esperança era a minha melhor arma, que ela me permitiria sobreviver.E eu, tolinha, acreditei.”

A partir daí você vai acompanhar o dia a dia de Milly, sua convivência com a família que ela tanto quer que seja permanente, seus altos e baixos na escola com a irmã que inveja toda a atenção que o pai dá para ela, a influência da mãe biológica que a assusta a cada instante e sua preparação para depor contra a mãe no tribunal. Gradativamente a autora vai desenhando para o leitor a personalidade oscilante de Milly, cheia de curvas e fluidez.


Adorei a escrita da autora que parece fazer suspense a cada palavra com suas frases sempre curtas e cheias de significado. A sensação que você tem é de que Milly não só conversa com a mãe que não está presente, mas, sobretudo, que ela conversa com você, te contando como tudo se desenrola. E como numa amizade verdadeira, aos poucos, ela se revela ao leitor em toda a sua pluralidade.

“E eu.
Por isso guardo segredos, tantos segredos.
Não sou quem eu digo ser.
Folie à deux – a loucura a dois.
Negar.
Manipular.
Mentir.
Mamãe, eu achei que podia escolher.
No fim das contas, sou igualzinha a você.
Só que melhor.
Ser boa já não me interessa.
Não
      Ser
            Pega,
                    Sim.”


Construindo teorias em uma página para depois desconstruir na página seguinte, Ali Land vai nos mostrando que ninguém é totalmente bom nem totalmente ruim, que todo mundo tem vários universos colidindo e brigando dentro de si, e que, verdadeiramente, você escolhe qual o lobo que quer alimentar. Ainda que tenha um mais insistente... 


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