A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, Louise O'Neill

TUDO PARECIA CALMO E COMUM NA SUPERFÍCIE... MAS NO FUNDO ERA O INICIO DE UMA REVOLUÇÃO!
Esqueça as histórias sobre sereias que você conhece. Esta é uma história diferente — e necessária. E tudo começa no fundo do mar. Com uma garota chamada Gaia, que sonha em ser livre de seu pai controlador, fugir de um casamento arranjado e descobrir o que realmente aconteceu à sua mãe desaparecida.
Em seu aniversário de quinze anos, quando finalmente sobe à superfície para conhecer o mundo de cima, Gaia avista um rapaz em um naufrágio e se convence de que precisa conhecê-lo. Mas do que ela precisa abrir mão para transformar seu sonho em realidade? E será que vale a pena?
A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões chega para trazer um pouco mais de contos de fadas para a linha DarkLove, da DarkSide® Books. Mas não do jeito que você espera; aqui, a história original de Hans Christian Andersen — e também suas versões coloridas e afáveis em desenhos animados — é reimaginada através de lentes feministas e ambientada em um mundo aquático em que mulheres são silenciadas diariamente — um mundo que não difere tanto assim da sociedade em que vivemos.
No reino de ilusões comandado pelo Rei dos Mares, as sereias não recebem educação, não têm direito de fala, devem se encaixar em um padrão de beleza impossível e sempre sorrir. É neste cenário que a autora irlandesa Louise O’Neill apresenta uma história sobre empoderamento e força feminina. Com narrativa e olhar afiados, a autora ainda desenvolve aspectos do conto original que passaram batido, como o relacionamento de Gaia com as irmãs e as camadas complexas da Bruxa do Mar.
A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões, que chega ao mundo acima da superfície da água com o padrão de qualidade que virou marca registrada da DarkSide® Books, mostra como, em um reino comandado pelo patriarcado, ter uma voz é arriscado. Mas também como querer usá-la é uma atitude extremamente poderosa e valiosa. Ainda mais em tempos tão sombrios.
A Pequena Sereia e o Reino das Ilusões
Ano: 2019 
Páginas: 224
Idioma: português 
Editora: DarkSide Books

Nossa protagonista é Muirgen, ou Gaia (nome que sua queria que tivesse e como gosta de ser chamada), sereia e filha mais nova do Rei dos Mares. Prestes a completar 15 anos, Gaia está ansiosa pela chegada desse dia pois é quando ela poderá ir até a superfície e descobrir o que realmente aconteceu com sua quando desapareceu a alguns anos nessa mesma data. Gaia não acredita na versão do pai de que a mãe abandonou ela e suas irmãs, foi capturada e morta pelos humanos.

“Há tantos tritões com medo de serem gentis. Eles temem seu verdadeiro eu, é uma tragédia. Pois o que acontece a homens que não têm permissão para sentir medo? Eles ficam com raiva. Rancorosos. Primitivos.”


Enquanto seu aniversário não chega, Gaia vive os horrores de ser cortejada por um homem que tem quase a idade de seu pai para quem foi prometida em casamento. Ensinada desde a infância que ser mulher é ser discreta, falar pouco, estar sempre bonitas, comer pouco para não engordar, não ler ou estudar, casar para ter alguém que cuide dela e concordar com tudo o que os homens fazem ou dizem, Gaia não vê outra solução para se livrar desse casamento a não ser fugir de casa. Induzida por sua irmã, movida pelo ciúme, pois ela é quem deveria se casar com o prometido de Gaia, ela procura Ceto, a Bruxa do Mar, para que ela lhe dê pernas para ir a superfície e conquistar o seu amor.

“Os homens nunca são chamados de adoráveis. Eles são logo estimulados à maturidade. Ao passo que nós somos obrigadas a nos comportar como garotinhas quando adultas; emanando juventude em nosso vocabulário e em nossos gestos. É irônico, na verdade, sendo que passamos a infância nos esforçando para parecermos adultas antes do tempo.”

Mas nada é dado sem um preço! Gaia troca a sua voz maravilhosa por pernas com um prazo para conquistar Oliver, caso isso não aconteça, ela morrerá.

O Reino das Ilusões é uma história fantástica! Acredito que seja a melhor releitura feita do original. Juro que tive vontade de matar Gaia por várias vezes... principalmente por conta da sua ingenuidade e credulidade, mas sempre tentava me lembrar que ela não conhecia nada sobre o mundo, muito menos sobre o amor...

Bem próxima da nossa realidade, a sociedade do fundo do mar é extremamente machista, opressora e sem sororidade. As sereias são objetos a serem exibidos pelos tritões, e quem tem mais dinheiro e poder exibe as mais bonitas. As sereias que não se enquadram nesse rígido padrão de beleza e de personalidade são banidas da sociedade e passam a viver na miséria. As que se rebelam vão para o Mar das Sombras, reino da Bruxa do Mar.


“ ‘Por que eu ficaria ofendida? Ser chamada de gorda, não é um insulto, pequena sereia. (...) Foi seu pai quem considerou esta uma palavra negativa e um jeito negativo de ser. Eu gosto do meu corpo. E, ao mesmo tempo, valorizo minha opinião pessoal sobre esses homens, você pode se surpreender ao descobrir que algumas pessoas preferem carnes mais abundantes. Não há nada para se envergonhar – todos temos nossas preferências -, mas eles foram obrigados a sentir vergonha disso mesmo assim. E eu sou uma mulher indecente por causa dessa vergonha. É o desejo deles, e como resultado sou expulsa.’ ”

A mudança de Gaia de sereia para humana, processo extremo e continuamente doloroso, nos remete ao que muitas mulheres se submetem em nome da beleza.

Mas o machismo não está presente apenas no fundo do mar, a mãe de Oliver é o principal alvo de críticas e repreensões entre os humanos. Mulher inteligente, comanda um grande império financeiro com punho de ferro, mas é sempre retratada como uma mulher fria, cruel, quase beirando a loucura por ter perdido o seu marido.


Ah, e não se engane, essa não é uma história de amor, não mesmo! O reino das ilusões mostra o quanto o amor pode trazer sofrimento e te cobrar um preço alto demais. É uma história que fala sobre autoconhecimento, amor próprio, a descoberta da sexualidade, homossexualidade, sororidade e da luta incansável das mulheres pelo reconhecimento e autoafirmação.  


“...é difícil ser mulher neste mundo, seja no fundo do mar ou na superfície.”


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