A revolução dos bichos, George Orwell


Publicado 75 anos atrás, A revolução dos bichos mantém em sua narrativa alegórica uma reflexão fundamental para os nossos tempos. No entanto, a correlação com os fatos que inspiraram o autor a escrevê-la quase sempre foi omitida. Aqui apresentamos a obra como ela, de fato, é: uma crítica contundente a Revolução Russa, ao socialismo real que foi posto em prática e a figuras como Marx, Lenin e Trotsky. Sátira política devastadora e fábula moral espirituosa, na tradição de Esopo, La Fontaine, Swift e Voltaire, narra a rebelião dos animais de uma granja contra o dono da propriedade, em busca de uma vida melhor. Porém, não muito tempo depois, os elevados ideais de liberdade, justiça e igualdade são traídos e um novo regime de opressão substitui a tirania anterior. “Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros” passa a ser o único mandamento em vigor e condensa em poucas palavras como o poder corrompe até mesmo as causas mais nobres. Em A revolução dos bichos, Orwell, espírito independente e radical nato, desencantado com os descaminhos da Revolução Russa de 1917, satiriza, por meio de uma fábula, o totalitarismo do regime stalinista, feito de mentiras, traições e terror.

A revolução dos bichos
George Orwell
Ano: 2021 
Páginas: 160
Idioma: português
Editora: Avis Rara


Sempre quis ler Geroge Orwell e, enfim, chegou a hora com essa edição fofa da Faro com capa em alto relevo e ilustrações que abrem cada capítulo contribuindo para que o autor mergulhe no mundo da Granja do Solar e de seus habitantes.

Fábula - curta narrativa, em prosa ou verso, com personagens animais que agem como seres humanos, e que ilustra um preceito moral.

Nessa fábula, Major, um porco que está prestes a morrer, conta para os animais da fazenda sobre o seu sonho de uma revolução dos animais para que eles não mais se matassem de trabalhar em benefício dos seres humanos, mas que eles trabalhassem em benefício próprio, como uma comunidade.

Com a negligência cada vez maior dos seus donos e a morte de Major, os animais organizam uma revolta, expulsam da fazenda todos os humanos e criam um regime próprio de governo cuja premissa básica é que os animais são bons e amigos enquanto humanos são maus e inimigos. Além disso todos trabalham de maneira igual e o fruto do trabalho também é dividido igualmente para todos. 

Tudo parece perfeito até que os porcos, se considerando mais inteligentes que os outros animais, passam a dar ordens e exigir mordomias por acreditarem que o trabalho intelectual que eles fazem de liderar e organizar é mais importante que o trabalho braçal do restante dos animais. Aos poucos, as mudanças são absurdas e eles passam a agir quase como humanos, usando roupas, andando sobre duas patas e morando na casa que antes era do proprietário da fazenda, contrariando tudo o que os 7 mandamentos iniciais pregavam.

Assim, o regime antes igualitário, volta a ter as mesmas características de quando eles eram servos dos humanos, só que agora são explorados por um semelhante. 

“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem quem era porco.”
E aqui vou me dar o direito de não olhar o livro sobre a ótica da política, nem a da época em que foi escrito nem a atual. Mas quero falar sobre o ser humano em sua essência e de como o ser humano é corruptível ao menor sinal de poder que lhe é dado ou tomado; de como os seres humanos são capazes de, por um detalhe ínfimo, ou até mesmo por nenhum, acreditarem serem merecedores de algum benefício em detrimento do seu igual ou mesmo que isso desmereça ou desfavoreça o seu semelhante; de como somos capazes de pensar em nosso benefício próprio mesmo que grande parte da humanidade não tenha nem o básico.

“Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais que os outros”

Acredito que o que acontece na política é apenas um reflexo do ser humano que nos tornamos e da maneira como agimos no dia-a-dia. A solidariedade e a empatia não devem se sobrepujar à ambição e à ganância.


Um comentário

  1. EStou lendo esse livro também. E fico pensando. "Será que nós não somos iguais aos bichos, que acreditamos em tudo?" Vendo tanto fake news considerada verdade?

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