Um corpo amanhece em um beco, envolto em uma manta e com pequenas partes cortadas. O crime do cais do Valongo, de Eliana Alves Cruz, Ă© um romance histĂ³rico-policial que começa em Moçambique e vem parar no Rio de Janeiro, mais exatamente no Cais do Valongo. O local foi porta de entrada de 500 mil a um milhĂ£o de escravizados de 1811 a 1831 e foi alçado a patrimĂ´nio da humanidade pela UNESCO em 2017. A histĂ³ria acontece no inĂcio do sĂ©culo 19 e Ă© contada por dois narradores — Muana e Nuno — que conviveram com a vĂtima: o comerciante Bernardo Vianna.
O crime do cais do Valongo
Ano: 2018
PĂ¡ginas: 202
Idioma: portuguĂªs
Editora: MalĂª
Bernardo Lourenço Vianna fez fortuna no perĂodo colonial no RJ com o contrabando de escravos e sua hospedaria no Valongo, onde Ă© morto. Fernandes, Intendente-Geral de PolĂcia e tambĂ©m seu primo, serĂ¡ o responsĂ¡vel por encontrar o assassino, mas quem vai nos ajudar a acompanhar as investigações Ă© Nuno, um mestiço que devia muito dinheiro ao morto, que, para afastar as suspeitas de si e evitar que sua divida seja descoberta, farĂ¡ uma espĂ©cie de investigaĂ§Ă£o paralela enquanto nos enche de informações sobre o local, os costumes da Ă©poca e de seus habitantes.
Quem tambĂ©m narra a histĂ³ria Ă© Muana, escrava do morto, que nos honra contando sua histĂ³ria de vida desde sua aldeia em Mocambique atĂ© os dias atuais. A narrativa de Muana Ă© mais crua, densa, principalmente quando fala das atrocidades cometidas pelos senhores de escravos, desde a captura de homens e mulheres livres em sua terra natal atĂ© a sua chegada e durante a sua vida miserĂ¡vel como escravizados no Brasil, mas nĂ£o deixa de lado a cultura ancestral dessas pessoas.
Ah, sim, e o crime? Na verdade, aqui, o crime Ă© apenas uma justificativa para deixar viva na memĂ³ria do leitor um perĂodo vergonhoso da nossa histĂ³ria mas que nĂ£o pode ser esquecido nem minimizado. Mas Ă© claro que o leitor nĂ£o ficarĂ¡ sem a resoluĂ§Ă£o desse mistĂ©rio, sĂ³ espero que ele esteja preparado para ir alĂ©m do natural, para acreditar no que nem sempre os olhos veem, para ter mente e coraĂ§Ă£o abertos ao sobrenatural e a outras culturas.
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