À Convite: Ilmara Fonseca - A alquimia da tempestade, D. G. Ducci


"Alquimia da Tempestade" não é uma obra de ficção, como nos diz o próprio autor, ao final do livro: trata-se de uma quase-autobiografia poética.
O que diferencia esta obra de outras tantas coletâneas de poemas são as pistas deixadas, ao longo das páginas, de que se trata de uma jornada no estudo de poesia, na qual mescla-se o Romantismo ao clássico Árcade (“Eu, querida, não sou aventureiro” / “Eu, Marília, não sou algum vaqueiro”), ou à homenagem aos dois amores do soneto 144 de Shakespeare em “Dúbio guerreiro”. A maturação do poeta leva à alquimia de uma tempestade.



Alquimia da Tempestade
1 # 1
D.G. Ducci
Ano: 2017
Páginas: 105
Editora: 7Letras

Poesia é um dos meus gêneros favoritos. Acho que vocês já sabem disto. Gosto de ler poemas, pois eles trazem à tona um pouco das emoções mais intrínsecas de cada autor. É como um aperto de mão, um registro delicado de quem é você através dos versos. Quando surgiu a oportunidade de resenhar este livro, em parceria com a Oasys Cultural, não hesitei. Seria uma oportunidade de conhecer mais um autor e de deixar-me levar em seus versos e em suas emoções. 

A escrita de Ducci é o que podemos chamar de “classuda”. Ele escreve com elegância e utiliza ricamente os sonetos e construções que remetem ao Romantismo e Classicismo. Em particular à sua segunda fase romântica, a chamada geração do Mal do Século. Sua linguagem é rebuscada, fincada nos sentimentos e na figura amorosa, mas também carregada de um torpor, uma certa descrença na felicidade e na realização deste amor. 

Os sonetos, que aparecem em sua maioria, podem ser lidos isoladamente ou em sequência. Além deles há também a presença de outros poemas, sem forma fixa e até mesmo metapoemas. Os temas são os mais variados, mas em geral falam-nos de sentimentos intensos, idealização, egocentrismo, sensação de não-pertencimento… tudo o que caracteriza os ultrarromânticos, em especial Álvares de Azevedo, poeta em que o autor é declaradamente inspirado. 

O livro está dividido em cinco partes, onde existe uma ligação estrutural que une os poemas uns aos outros, numa sequência que faz o amálgama entre forma e conteúdo. Com exceção da primeira parte, onde o autor expõe os seus poemas mais variados, cada seção do livro faz uma alusão a uma das partes da tempestade, como: brisa, vento, chuva e furacão. E cada poema apresentado nestas partes traz a intensidade devida, como numa cadência de sentimentos que culmina na explosão de uma tempestade. 

Por exemplo, em Brisa temos os poemas que trazem um amor suave, leve e imerso em idealizações. O sentimento é pleno, intenso e tem como cúmplices os elementos da natureza. Já em Chuva, os poemas são mais fortes, traduzem a rejeição e o negativismo advindo dela, como nos versos do poema “Morrerei: “Se a vida me foi drástica morada, / que a Morte seja fuga desejada!”. Estas partes do livro também se mesclam com a autobiografia do autor e as diversas fases de sua vida. Por isto Ducci também nomeia seu livro de “uma autobiografia poética”.

Gostei muito da forma como o autor construiu a sua narrativa em versos e expressou seus sentires, trazendo o soneto como pedra basilar para a construção de sua obra. Embora eu prefira versos brancos e uma poesia mais solta, o soneto não conseguiu “prender” os sentimentos. As emoções foram condensadas na forma e não o contrário. O próprio autor traz essa discussão em seu poema Solilóquio, que fala dessa necessidade de escapar da forma única.
“De que adianta essa atenção totalem cada verso, a métrica perfeita,se minha dor é fúria incontrolávelna solidão que me atravessa o peito?” (p. 82) 
Por fim, a diagramação e a qualidade do projeto editorial, marcas registradas das obras da 7 Letras, traduzidas no papel pólen de excelente gramatura e em impecável revisão terminam de conferir à obra as características que fazem dela um livro mais que indicado. A Alquimia da tempestade, para além de tudo o que já foi dito, é um livro sobre amor em suas mais variadas formas. Leve e suave como uma brisa ou denso e devastador como um furacão. 


18 comentários

  1. Oi Ilmara, não sou muito de ler livros de poemas, mas achei a sua resenha sobre este bem inspirada, bem como parece ser o livro, que já começa com um título bem poético, A Alquimia da Tempestade. Os poemas parecem ser intensos e que também trazem um pouco da autobiografia do autor, como você cita e imagino que os fãs desse gênero irão gostar muito ;)

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    1. Lili, a poesia é realmente um gênero pouco lido, mas creio que isso é porque é também pouco conhecido. Acho que você ainda não achou o seu "tipo", mas quando achar, vai amar! Beijos! ;)

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  2. Ilmara,como é bom ler poemas que nos falam de Amor de forma suave.
    Melhor sentimento não há!

    Sempre gostei de poemas,mas confesso que ultimamente tenho lido pouco.
    Fiquei com saudades da época em que eu ia a biblioteca de minha escola a procura de livros de poemas...

    Adorei conhecer esse livro! :)

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    1. Sim, Janaína! A poesia é como "um gole de água bebido no escuro", como já dizia o poeta. Faz bem para a alma. Um beijo! ;)

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  3. Não sou fã de poesias, pois nem sempre compreendo o que o autor quis transmitir, umas até gosto, mas outros são totalmente sem sentido. Mas deve ser legal os poemas ainda mais por tratar de temas variados.

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    1. Maria, nem precisa compreender, só sentir. Ler e sentir, você vai ver que maravilha que é! Beijos! ;)

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  4. Infelizmente não gosto de poesia, nunca consegui gostar por mais que tente, adorei a sua resenha e por mais positiva que tenha sido não pretendo ler, mesmo assim obrigado pela dica.

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  5. Olá.
    Que ótima resenha, parabéns!
    Não tenho costume de ler livros nesse estilo, mas gosto de poesias. Sempre trazem uma boa reflexão e fazem muito bem!
    Obrigada pela dica.
    Beijos.

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    1. Obrigada, Márcia. Sim, poesia para mim é remédio para a vida e para alma. beijos! ;)

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  6. Estou tentando me interessar um pouco a poemas porque acho que é uma maneira de se expressar os sentimentos que o poeta transmita.
    Abraços!!

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    1. Sim, Marilia! Acho que antes de dizer que não gostamos temos que tentar. A poesia é um campo muito diverso e eu sempre dou chances para a Literatura. Já fui surpreendida muitas vezes e foram surpresas boas. Beijos!

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  7. Oie!! Eu gostei do livro, não conhecia, apesar de não ler esse gênero fiquei bem curiosa pra conhecer.
    Parabéns pela resenha!
    Bjs!

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    1. Obrigada, Aline! Dê uma chance para a poesia, você vai amar! ;)

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  8. Olá, Gostou muiro de poesia, poemas, frases, versos e etc..muitas pessoas já não ler esses tipos de generos mas amo eles porque expresar ali os sentimentos das pessoas, e acho isso bastante lindo e bonito!!

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    1. Lily, acredito que a poesia é uma forma bem direta e forte de expressar oq ue se sente e também as coisas boas e belas da vida. Acho que é por isso que ela é um dos meus gêneros preferidos. Beijos!

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  9. Ilmara!
    Gosto demais dos livros de poesias e fico bem feliz em ver que estão voltando ao mercado literário.
    Ver um livro que traz aas emoções afloradas do autor e a sensibilidade com as coisas da vida, deve ser um delite para a mente e o coração.
    “Preferi sempre a loucura das paixões à sabedoria da indiferença.” (Anatole France)
    cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/
    TOP COMENTARISTA ABRIL especial de aniversário, serão 6 ganhadores, não fique de fora!

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  10. Oi!
    Gosto de poesias, mas esse quase não pego muitos livros de poesia para ler, lendo a resenha desse ele me chamou atenção, pois vi aquele algo a mais que diferencia a obra, se tiver oportunidade pretendo ler esse livro !!

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