Segure minha mão, Guille Thomazi


Segure minha mão é uma história de violência e afeto, desespero e conforto, mas sobretudo de bravura e dignidade. Em uma região estrangeira (no início do século XX) devastada por guerras e invasões de exércitos inimigos, o protagonista Olek, gago e epilético, procura pela esposa desaparecida. Deixa a filha pequena, de corpo frágil e saúde instável, isolada, no meio da estepe, além do alcance de qualquer mal. Mas a chave para a salvação da criança se encontra com a mãe, que pode estar viva ou morta. Olek segue sua jornada como um herói clássico, resiliente, cujas virtudes nunca são dobradas pelas circunstâncias. Enfim, uma ode à decência em meio à deterioração humana.

Segure minha mão
Guille Thomazi
Ano: 2020 
Páginas: 248
Idioma: português
Editora: Patuá

A primeira coisa que me chamou atenção em Segure minha mão foi a capa. Fato curioso e engraçado, porque eu quase nunca dou importância às capas, mas esta pousou em mim com tamanha força e logo depois eu vim descobrir o que era. Contrastes e Paradoxos que se desenham nas páginas e frases curtas da narrativa de Thomazzi são os mesmos que se desenham no olhar de uma criança em plena guerra.  

Numa narrativa histórica, embora nem sempre fiel à realidade, conhecemos o nosso protagonista, Olek, o perfil de um herói épico às avessas (ele era gago e epilético) mas fiel às suas virtudes morais.  Vivendo ora na selvageria da natureza crua, ora no pavor da violência infligida pela guerra, ele tenta sobreviver a duras penas para proteger aqueles que ama. 

No começo da guerra polaco-soviética, próximo a Kiev, a esposa grávida de Olek, Ekaterina, dá à luz em um parto doloroso e difícil que termina culminando com a morte de uma das filhas que nasceu. Cada vez mais triste e cabisbaixa, após o parto, Ekaterina foge no meio da noite abandonando Olek e a sua filha, indo para o meio da guerra. Preocupado com a sobrevivência de sua filha, Olek vai atrás da esposa encarando também o cruel e violento cenário da guerra. 

Em sua jornada épica, Olek vai enfrentar inúmeros desafios e situações de violência e perigo. Suas fragilidades se metamorfoseiam com um quadro de horrores e de guerra que é descrito a todo tempo. Ora ridicularizado, ora atacado, a narrativa foca nas qualidades ímpares que fazem de Olek um ponto de apoio e fonte de esperança para todos que o cercam. 

A narrativa de Thomazi não é fácil, com frases curtas e muitas descrições de batalhas e do cenário de guerra, há momentos em que a violência escorre pelas palavras, há momentos que que ficamos cansados como se lá estivéssemos, há momentos que é preciso parar e respirar. Ainda assim, é um livro denso e carregado de emoções e de humanidade. A violência e a brutalidade estão ali presentes para ressaltar o que de mais humano se tem. Em dias de guerra. Ou em todos os dias. 
                                     



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