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Resenhas da Vic: Desejo, Elfriede Jelinek - Alaude

Título: Desejo

Autor(a): Elfriede Jelinek

Editora: Alaude

Ano: 2013

Páginas: 240

Nota: 3/5

Sinopse: A obediente Gerti é casada com Hermann, diretor de uma fábrica de papel para quem tanto os funcionários como a mulher têm um valor meramente instrumental. Apesar de criança, o filho do casal já se mostra predisposto ao consumismo e a certa perversidade e completa um núcleo familiar disfuncional em que imperam a dominação sexual, a humilhação e o abuso de poder.


Desejo é uma crítica que fala sobre uma sociedade machista, na qual o homem tem supremacia na voz, autoridade evidenciada até no controle físico que exerce sobre a mulher.

Gerti é uma mulher extremamente infeliz. Casada com Hermann, diretor de uma grande fábrica, é escrava sexual dele. Temos o relato no decorrer do livro da sua obsessão doentia. O filho do casal, ainda criança, presencia com curiosidade os abusos sofridos pela mãe, isso reflete na formação da sua personalidade e percebe-se que até certo ponto a inocência infantil já foi perdida.

Ela é extremamente submissa, não tem voz. Ela não é dona do seu corpo e não controla as suas necessidades e muito menos os seus desejos. Seus gritos e protestos são as únicas formas de manifestação.

Apesar do tema forte, não existe nada de erótico nas descrições das cenas. Elfriede intercala sexo explícito com crítica social.

‘’Desconfortável’’ talvez seja o adjetivo a esta obra tão realista. Tanto a forma quanto o conteúdo causam um incômodo durante a leitura, que continua mesmo depois de chegar ao fim do livro. Em alguns trechos, é insuportável acompanhar a narrativa, ver o modo como Gerti é subjugada e humilhada pelo marido, sua tentativa de fuga da realidade abrigando-se na bebida alcoólica e a perversão do filho, um pequeno voyeur que se delicia observando a situação. Horrível.

Porém, Desejo nada mais é do que um relato de uma sociedade não muito distante da nossa. Li algo sobre o livro, na qual um jornalista fala que a obra é uma leitura obrigatória para os jovens escritores de todo mundo.  Em parte, tenho que descordar: Acho uma leitura obrigatória para todos aqueles que lutam, de uma certa forma contra esse sistema que vai contra todos os valores aprendidos e ensinados.


“As mulheres, enxertadas de esperanças, vivem da lembrança; os homens, entretanto, vivem do momento, que lhes pertence e, se cuidadosamente cultivado, se deixa compor e formar um montinho de tempo, que igualmente lhes pertence.” (p.23)