Notas sobre o luto, Chimamanda Ngozi Adichie

 


Escrito apĂ³s a morte do pai de Chimamanda Ngozi Adichie em junho de 2020, durante a pandemia de covid-19 que mantinha distante a famĂ­lia Adichie, Notas sobre o luto Ă© um poderoso relato sobre a imensurĂ¡vel dor da perda e as lembranças e resiliĂªncia trazidas por ela. Consciente de ser uma entre milhões de pessoas sofrendo naquele momento, a autora se debruça nĂ£o sĂ³ sobre as dimensões familiares e culturais do luto, mas tambĂ©m sobre a solidĂ£o e a raiva inerentes a ele.
Com uma linguagem precisa e detalhes devastadores em cada capĂ­tulo, Chimamanda junta a prĂ³pria experiĂªncia com a morte de seu pai Ă s lembranças da vida de um homem forte e honrado, sobrevivente da Guerra de Biafra, professor de longa carreira, marido leal e pai exemplar.

Em poucas pĂ¡ginas, Notas sobre o luto Ă© um livro imprescindĂ­vel, que nos conecta com o mundo atual e investiga uma das experiĂªncias mais universais do ser humano. “Era tĂ£o prĂ³xima do meu pai que sabia sem querer saber, sem saber inteiramente o que sabia. Uma coisa dessas, temida durante tanto tempo, finalmente chega, e na avalanche de emoções vem tambĂ©m um alĂ­vio amargo e insuportĂ¡vel. Esse alĂ­vio se torna uma forma de agressĂ£o, e traz consigo pensamentos estranhamente insistentes. Inimigos, atenĂ§Ă£o: o pior aconteceu. Meu pai se foi. Minha loucura agora vai se revelar.”
Notas sobre o luto
Ano: 2021 
PĂ¡ginas: 144
Idioma: portuguĂªs
Editora: Companhia das Letras

“Uma erosĂ£o, uma terrĂ­vel tromba-d’Ă¡gua que deixou nossa famĂ­lia para sempre deformada. As camadas da perda fazem eu me sentir fina como um papel.”

Desde o final de 2019, poucos meses antes do inĂ­cio da pandemia, tenho convivido de perto com a morte de uma maneira que jamais imaginei ser possĂ­vel. Nunca perdi tantas pessoas queridas nem nunca vi tantos amigos prĂ³ximos vivendo essa mesma dor, e por isso quis muito ler Notas sobre o luto para absorver um pouco da sabedoria da Chimamanda. 

A necessidade de falar sobre a dor da perda de seu prĂ³prio pai em 2020 foi o evento motivador para que a autora escrevesse esse livro curtinho mas tĂ£o impactante. Mesmo nĂ£o tenho morrido por covid, a pandemia fez com que a grande parte dos planos e rituais de luto tradicionais da cultura de sua famĂ­lia fossem alteradas. 

 "Meu pai se foi. Minha loucura agora vai se revelar.”
O livro traz as fases pelas quais a autora passou começando pela dor da perda, a nĂ£o-aceitaĂ§Ă£o da ausĂªncia, a culpa pela distĂ¢ncia, o temor de nĂ£o poder se despedir por causa das restrições impostas pela pandemia que fechou aeroportos em todo o mundo. E, em meio a tudo isso, ainda aprendemos um pouco da cultura nigeriana e como esse povo lida com seus mortos.

“O luto Ă© uma forma cruel de aprendizado. VocĂª aprende como ele pode ser pouco suave, raivoso. Aprende como os pĂªsames podem soar rasos. Aprende quanto do luto tem a ver com palavras, com a derrota das palavras e com a busca das palavras. Por que sinto tanta dor e tanto desconforto nas laterais do corpo? É de tanto chorar, dizem. NĂ£o sabia que a gente chorava com os mĂºsculos”.

Uma leitura que te faz refletir sobre a fugacidade da vida e sobre como lidar com a dor da perda e a certeza da ausĂªncia, que mostra o quando somos frĂ¡geis  e vulnerĂ¡veis a essa certeza e torna Ă³bvio que precisamos falar sobre o luto, vivĂª-lo, para depois seguir em frente. 


Um comentĂ¡rio

  1. Mesmo sem ter lido este livro, penso que é o tipo de livro que talvez acalentasse muitos corações.
    A gente tem lidado com o luto diĂ¡rio, muitas vezes, de pessoas que nem sequer conhecemos, mas a dor? Ela Ă© real, muito real.
    Chimamanda é ensinamento do começo ao fim!!!
    Espero muito ler essa obra e outra dela o quanto antes!
    Beijo

    Angela Cunha/O Vazio na flor

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