Título: Corte de Espinhos e Rosas
Livro 1
Autora: Sarah J. Maas
Ano: 2015
Páginas: 434
Editora: Galera Record
Antes de tudo eu preciso dizer que vou
pedir que você não ceda à tentação e ignore a sinopse oficial dada ao livro
pela editora porque ela simplesmente entrega de mão beijada diversas partes
importantes da história.
Esclarecido isto vamos a resenha.
Corte de Espinhos e Rosas se passa em um
mundo que uma vez foi governado inteiramente pelo povo feérico. Após a revolta
humana, motivada pela escravidão, foi estabelecido um tratado de paz entre os
povos no qual, entre outras coisas, os humanos receberiam um território para
viver e governar onde nenhum feérico teria permissão de entrar e nenhum humano
de sair.
Em uma cruel sociedade pós-guerra, vive
Feyre, uma menina humana extremamente pobre que, em função de sua família
exploradora, se transforma em uma caçadora.
No meio de um inverno cruel e motivada
pela fome extrema, Feyre mata, perto da fronteira feérica, um gigantesco lobo e
vende sua pele no mercado da cidade. O que Feyre não sabia era que o lobo na
verdade era um feérico zoomórfico.
Em função da vida que ela tirou, uma
besta feérica atravessa a muralha e exige a ela o pagamento devido estabelecido
pelo tratado de paz: uma vida por uma vida. A criatura então dá a Feyre uma
escolha, morrer pelo seu ato ou viver eternamente na terra feérica.
O problema nisso tudo é que por séculos
a raça humana vem contando e disseminando diversas histórias sobre o povo
feérico. Nem todas as histórias são iguais, nem todas as lendas são contadas da
mesma forma, mas uma coisa todas elas têm em comum: os feéricos são os monstros
que dão uma razão ao medo.
Fica claro, durante a leitura que o
livro sofre uma imensa influência de diversas lendas da mitologia celta (se
apropriando inclusive de nomes famosos) e, até, de contos de fadas.
Sabe o que é engraçado? Apesar da sinopse oficial entregar
em que famoso conto este primeiro livro se baseia, foi apenas após a “grande
revelação’’ que eu somei dois mais dois e encontrei o quatro. Fui feita de idiota que nem a mocinha do livro e achei o máximo isso haha
Quanto ao mundo feérico, achei muito
interessante a forma como a autora dividiu esse reino em sete cortes, cada uma
representando as estações do ano (corte primaveril, corte estival, corte
outonal e corte invernal) e as ondulações de um dia (corte noturna, corte
diurna e corte crepuscular), de forma que implicasse a influência dessas cortes
nos eventos que lhes dão nome. Assim, a corte primaveril é responsável, a
título de exemplo, pela forma que a primavera se apresentará naquele mundo em
cada ano.
O livro tem um ritmo inicialmente
bem legal, evoluindo aos poucos no decorrer da história, no entanto, do meio para
o final o ritmo frenético assume e a coisa fica feia para 90% dos personagens
desse livro. Quando eu digo que a coisa fica feia, ela realmente fica feia na
pegada Jogos Vorazes se encontrando com Guerra dos Tronos.
Gente, aquela cena do labirinto foi incrível! Saraj J Maas realmente sabe escrever cenas de ação.
Falar dos personagens desse livro é uma
tarefa um pouco complicada por conta da quantidade de personagens interessantes.
Eu gostei bastante da Feyre como personagem
principal, mas eu gostei mais da pessoa que ela se tornou do meio para o final
do livro sabe. No início ela tinha aquele tom perdido, um tom de cachorrinho na chuva sabe? Mas no decorrer do livro ela amadureceu e evoluiu e mostrou a mulher poderosa e
badass que ela tinha por dentro.
“Eu preferiria
não usar aquele vestido.
- E porque não?
– Perguntou Lucien.
Foi Tamlin quem
respondeu por mim. – Porque nos matar é mais fácil de calça.” (pag.67)
Temos também Tamlin, com sua pode de nobre e bom e
extremamente grosseiro e esquentado. Achei realmente engraçado as tentativas
iniciais de diálogo entre ele e a Feyre.
- Você parece...
melhor que antes.
Era um elogio? Eu
poderia jurar que Lucien deu a Tamlin um acesso de cabeça encorajador.
- E seu cabelo
está... limpo. (p.68)
A coisa com Tamlin foi que eu fiquei
muito curiosa em descobrir o motivo por trás de suas atitudes insistentes iniciais, porque eu sabia que tinha que ter um motivo, mas quando finalmente descobri me senti um pouco triste.
Não me entenda mal, a
razão é válida, mas ao mesmo tempo que ela é compreensível, ela destrói um
pouco do encanto do personagem para mim. Mas o que realmente, realmente, me
decepcionou em relação a ele foi a forma com a qual ele lidou com todas as situações do livro, principalmente as coisas na
metade final do livro, fazendo um grande e espetacular nada!
A sorte dele é que personagem X
(não mencionarei nomes) existe e é incrível e resolve tudo, porque se fossemos esperar pelo Tamlin, íamos esperar para sempre. Fica aqui um recado para Tamlin: Serio Tamlin?
Serio de verdade?
Então temos Lucien, de longe um dos meus
personagens favoritos desse livro. Ele tem tudo que eu adoro em um personagem.
Ele tem o sarcasmo ferino, a habilidade de falar a verdade na cara das pessoas,
a falta de paciência com o bla bla bla alheio e é o detentor dos diálogos mais
rápidos do livro. Mais do que isso, Lucien é um personagem realmente
interessante devido as suas atitudes no decorrer da história e do seu passado
conturbado e triste. Fora que ele é ruivo e só isso dá para ele muitos pontos haha
“- Se eu
oferecer a você a lua em um barbante, vai me dar um beijo também?
- Não seja um
babaca – Disse Tamlin para ele, com um
grunhido baixo, mas Lucien continuou rindo, e ainda ria quando saiu da sala.”
(pag. 225)
Por fim temos Rhysand, o mais complicado
e, de certa forma, o mais complexo/interessante personagem do livro. O problema
com esse personagem é que eu não sei eu amo ou não ele e eu realmente
detesto esse sentimento de dúvida.
O negócio com Rhys é que ele faz tanta
coisa ruim e ao mesmo tempo, de alguma forma, ele tem alguns tons de branco que
aparecem em certos diálogos e em pequenas ações dele que te fazem questionar o
seu julgamento, te fazem questionar o motivo real da ações dele (aquelas que você achou que era ruim). Ele aparece como aquele garoto mau que você sabe que é errado, mas que
sabe ser errado da forma certa as vezes. O garoto mau com coração.
Minha unica duvida sobre o Rhys é que para ele os
fins justificam os meios, mas até que ponto podemos concordar com isso?
“ - Você nunca
me disse que amava as asas, ou voar. – (...)
Rhys deu de
ombros.
- Tudo o que eu
amo sempre teve a tendência de ser tomado de mim. Falo para poucos a respeito
das asas. Ou de voar.” (pag. 425)
A coisa é que Rhys é também o
personagem mais misterioso do livro porque nada sobre o seu passado ou sobre
suas ações é explicado e eu sei, no fundo do meu coração, que nada que Rhys faz é sem sentido ou sem um objetivo. Para mim, Rhys é o maior ator do livro, ele se passa de vilão mas na verdade é o herói da historia. O que nos
deixa com um grande mistério a ser resolvido para o próximo livro no qual, eu
aposto e espero, ele terá um papel realmente importante.
Corte de Espinhos de Rosas possui uma leitura fácil, gostosa e viciante (fui dormir cinco horas da
manhã lendo!) que te deixa com gostinho de quero mais.
O que, por sinal, me
levou loucamente a vários fóruns de discussão e a fazer um monte de
investigação nas redes sociais da autora para ver se ela tinha dado alguma
pista sobre a série. Isso se chama abstinência literária minha gente e só vai
ser curada quando eu tiver o segundo livro dessa serie em minhas mãos em maio
desse ano.
Ps: Eu não recomendo esse livro para
menores de 16 anos em função de algumas cenas de teor sexual semi-explícitas (eu
não vi isso chegando!) e de violência (ossos saindo de braços, cenas de tortura,
morte e afins).
Ps: A revisão da tradução desse livro
parece não ter sido feita com a devida atenção. Encontrei alguns erros de
conexão de frases, ausência de sinalização de final/começo de diálogos e, o que
eu acho mais grave, erros de continuidade. Em determinado momento, certa
personagem tem cabelos ruivos e uma página depois ela tem cabelos pretos (?).
Ps: A série será composta por três
livros, cada um influenciado por uma história ou lenda famosa (minha aposta
para o segundo livro é a história de Hades e Perséfone e acho que se você leu o livro vai entender o porque).
Ps do Ps: O que foi aquela penúltima
cena do livro minha gente? Tenho tantas teorias!!!